domingo, 11 de janeiro de 2009

Os bárbaros, os brasileiros os chineses e os estrangeirismos

Os bárbaros antigos esforçaram-se para preservar na sua língua os estrangeirismos latinos. Ainda hoje continuam o esforço quando por exemplo aprendem latim. Nós privilegiados que somos neste berço que transborda grego, latim, árabe etc. achamos que o Latim está morto e no que está morto não se mexe. Os bárbaros entre nós, aqueles que não param nas passadeiras para os peões passarem ou que deitam lixo para cima da roupa do estendal da vizinha, esforçam-se por guardar qualquer traquezinho que tenham ouvido em língua "marketing", quero dizer em língua "import/export". Não se deram conta que as palavras eruditas dos bárbaros instruídos que eles querem imitar são maioritariamente de raiz latina. A tal raiz morta. Os bárbaros entre nós,há uns anos anedotavam os portugueses que emigrados em França vinham de vacances pensavam na retraite e cuja profissão era a de concierge. Esses bárbaros desconheciam antes como agora a realidade rural de onde partiam para a emigração os nossos compatriotas. Nessa realidade não havia porteiros ou porteiras, não havia reforma ou direito a férias tal como em boa parte das profissões do nosso país de então não havia. Era natural que ao seu vocabulário de uso corrente lhes tivesse chegado primeiro a palavra estrangeira, e que fosse essa a utilizada. Presentemente os bárbaros entre nós, alguns até jornalistas, fazedores de notícias e opinião, segundo as próprias palavras deles, escrevem artigos onde se apavoram com a violência dos brasileiros que roubam e assaltam bancos. Mas curiosamente não se alarmam que os canais de televisão e as salas de cinema veiculem uma sociedade "made in" em que parece não acontecer mais nada do que roubos, assaltos, assassínios, atentados e intermináveis perseguições tipo predador/presa, em que os heróis são jovens, ricos e na moda. Não se inquietam nem se questionam porque será que num filme de bandidos passado em S. Paulo no Brasil vemos uma sociedade de grande desigualdade e injustiça social, mas se for passado em Nova Iorque ou em Chicago deixamos de fazer a mesma leitura(?). Também há bárbaros e bárbaras fazedoras de opinião, eles chamam-se a eles próprios opinion makers, que escrevem artigos contra as lojas dos chineses e contra os chineses. Chegam à mais vil barbárie necrófaga de inquirir sobre os cemitérios chineses ou os túmulos chineses nos cemitérios portugueses. Pois eu dir-lhes-ía que os chineses são como os personagens dos filmes "made in", são jovens ricos e na moda. São tal qual os portugueses que vinham de vacances e ao que consta nessa época também não eram sepultados em França. São ainda semelhantes às moças e aos moços da caixa do supermercado que são jovens sorridentes e não têm necessidades fisiológicas tais como comer, urinar etc. Para terminar, aprendi uma ontem sobre estrangeirismos. A flor da bergamota que aromatiza o famoso chá Earl Grey é a flor da tangerineira. Porque é que nós já não chamamos bergamota à tangerineira e no Brasil chamam? Bem, eu acho que é porque a nossa memória às vezes nos traz uma imagem incrívelmente estrangeira de nós próprios.

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