quarta-feira, 25 de março de 2009

Luís Filipe a origem do nome. (P'rá Zabelinha que hoje é pequenina)

O meu pai que foi soldado na Póvoa do Varzim e de lá trouxe uma veneração respeitosa pelo mar e pelas pessoas do mar: os que ficam na angústia da separação e os que se demoram na ansiedade do não retorno. Veio depois para a Base Aérea nº 1 na Granja do Marquês em Sintra. Aí ganhou um apreço pelas coisas do ar, um espanto pelo ócio das praias, e uma percepção mística da divindade. A isto não será alheio o nevoeiro que envolve a montanha mágica, conhecida nas notas históricas mais remotas como A Montanha da Lua e que nós chamamos Serra de Sintra. Mas não terá sido apenas isso que ele ganhou. Ganhou também um nome para o filho que viesse a ter. Num dos palácios, o da Vila ou o da Pena esteve em exposição um quadro retratando uma criança muito bonita acompanhada de um cão enorme. Era o retrato do Príncipe Real D. Luís Filipe, filho mais velho da Rainha D. Amélia e do Rei D. Carlos. Segundo o que me contou, meu pai no seu pensamento auspicioso terá dito para si próprio: Se algum dia tiver um filho ele chamar-se-á Luiz como meu pai e Filipe como esta criança tão linda. Muitos anos mais tarde sendo eu já adulto, tive a oportunidade de conhecer essa pintura. Foi numa exposição retrospectiva do pintor José Malhoa, assim que vi o quadro reconheci-o imediatamente. Uma criança loura de cabelo comprido toma apoio pelo antebraço num cão de grande porte de uma raça que não reconheço. Entre o dogue e o braco o castro laboreiro e o serra de estrela. O cão está representado numa ténue obscuridade e parece sólido como uma rocha. A criança traja uma veste luminosa de sêda ou outro tecido refulgente que lhe cai até aos joelhos, sua cintura é cingida por uma faixa azul celeste. Sem dúvida é uma criança esplêndida. Esta criança que nasceu no dia 21 de Março, com a Primavera do ano de 1887, foi como as flores colhida precocemente, e a sua vida breve viria a terminar no Terreiro do Paço em Fevereiro de 1908 no atentado que também vitimou D. Carlos e que dois anos depois a 5 de Outubro de 1910, viria a culminar com o fim da Monarquia em Portugal . Sempre que passo a pé pelo Terreiro do Paço junto ao local onde aconteceu o atentado lembro-me desse jovem de quem sou homónimo. Associo-o com outra coisa que aprendi com o meu pai. Gostar de flores; mas sem as cortar para as colocar numa jarra. Sempre que ofereci flores, ofereci toda a planta no vaso. Não se colhe o que já tem vida breve, e a Vida é sempre breve.

1 comentário:

Red disse...

Obrigada, Luizinho.
É uma história bonita
Zábeu