sábado, 18 de abril de 2009

O meu pai contava-me as histórias de João Brandão, ou da guerrilha feita contra os franceses na Ponte de Mucela. Parecia que tinham acontecido ontem.

De facto eram histórias com 160 ou 200 anos. Transmitia-me ele a memória que lhe tinha sido legada. Essa tradição oral que muito remota transforma os factos em lendas de mouros e mouras encantadas é talvez por isso menosprezada nos meios eruditos. Meios eruditos que paradoxalmente transformam a história em pré-história sempre que não encontram registo material da oralidade. Na floresta que circunda a aldeia onde nasceu o meu pai, existe uma grande rocha granítica junto a um acentuado declive. A rocha arredondada e polida pela abrasão glaciar, é um promontório virado a nascente. No topo da rocha há um entalhe quadrangular de cerca de 40cm de lado e com uma profundidade de cerca de 25cm. As arestas do entalhe são perfeitas. Desta espécie de bacia quadrada sai um sulco que se direcciona para o declive. A tradição oral chama ao local "a cozinha dos mouros". Há 30 anos um agricultor que procurava água para o terreno situado na área abaixo da rocha escavou um poço. Não encontrou água, mas a partir de 1,5m de profundidade encontrou muitas cinzas e carvões. Penso que terá recolocado as terras com os carvões no mesmo local. Deste relato ficam questões como o que é a cozinha dos mouros? Quem fez o entalhe na pedra e com que fim? Uma coisa é certa, a zona é habitada desde tempos tão remotos quanto as pedras podem testemunhar. Ruínas Romanas na Bobadela, Oliveira do Hospital. O Menir caiado na Póvoa de Midões, Tábua.

2 comentários:

Catarina Garcia disse...

Fez lembrar um dos episódeos do famoso tsunami há uns anos atrás.
O povo que conservava a tradição oral mal associcou o estranho comportamento do mar a uma lenda antiga, correu para cima do monte mais próximo e salvaram-se todos da tragédia. Os ocidentais preocupados com eles ficaram de boca aberta qnd chegaram à ilha deste povo indígena e os viu sãos e salvos. Lembra-se desse episódeo?
Qnt a este assunto, a arqueologia hoje em dia, infelizmente, já está muito ligada às empresas, e a maioria dos que estudam tornam-se mesmo arqueologos empresariais que quase só metem números nas peças e não os estudam depois.
É triste, se não fosse tanto assim talvez houvesse mais gente a estudar estas aldeias e vilas pequenas e a tornar estas lendas e achados pedaços da nossa história.

Catarina Garcia disse...

Já vi a sua gravura postal!
Está óptima, adorei o seu estilo, ainda bem que sempre concorreu.