quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Frida Khalo,México, Muralistas,Beethoven e Ex Votos na resposta a TODAS-CORES-DA-VIDA.

Querida Maria mesmo na dor e tristeza me trazes alegria. Eu também gosto muito do filho da Lúcia. E gosto da ferida Frida. Historicamente, partilhamos com o Grande México o ano de 1910. Lá e cá houve uma revolução. Foram os primeiros acontecimentos do séc. XX que anunciavam o que ele iria ser relativamente a revoltas, revoluções, guerras e chacinas. A revolução institucionalizou-se no México no Partido Revolucionário Institucional, e em Portugal o Estado Novo nascia velhaco. A Frida passou por isto tudo como se o seu próprio corpo fosse um reflexo do sofrimento no mundo. A vanguarda artística desse tempo estava também ali no México com os chamados Pintores Muralistas Mexicanos que à semelhança dos povos pré-colombianos seus antepassados: Maias, Mixtecas, Zapotecas, Olmecas, Astecas, Tarrascas, Huaxtecas, etc., pretendiam retomar uma arte pública de grande formato acessível a todos e não restrita a palácios e locais de culto religioso. Estes pintores são hoje conhecidos através do nome do pintor Diego Rivera, que por sua vez é conhecido por ter sido o companheiro de Frida Khalo. O nosso mundo apressado não tem tempo para entender e avaliar a dimensão cultural do México deste e doutros tempos. Estes trabalhadores da arte, retomaram o conceito de artista anterior ao séc. XIX. Para eles não fazia sentido recusarem-se, como Beethoven fez, a comer na cozinha com os outros criados. Beethoven proclamava assim a sua condição de artista tocado pelo duplo dom da Entidade Suprema: a capacidade de trabalho e a capacidade de criar o novo como legado ao futuro. Para estes muralistas não havia sequer cozinha a sua casa era a mesma do povo com que se identificavam: a rua, o alpendre, a choupana. Atenção é preciso não confundir pobreza com pobreza de espírito. Muito prosaicamente direi que os muralistas nos legaram a sua obra diversificada complexa datada historicamente (como se as obras intemporais não fossem um marco e um produto do génio do seu tempo por isso datadas historicamente) e também as modernas tintas de pintura. As de pintura industrial, que entre outras é a de exterior/interior das nossas casinhas, mas também as tintas para belas artes. Pois foi graças à investigação e ao trabalho directo dos pintores com os laboratórios e a universidade na investigação/experimentação de pigmentos resistentes à luz e à intempérie que elas foram desenvolvidas. Voltando à Frida, ela materializa na sua pintura um imaginário colectivo fantástico. Este mundo de sonhos que tem tantos paralelismos com a cultura popular chega à cultura erudita como amadurecido refinamento. (Acho que já falámos disto quando falámos do Picasso.) É por isso que o Breton lhe chamou a primeira dos Surrealistas, e reconheceu nela o surrealismo como se tratasse de uma língua materna enquanto nele, o dito criador do surrealismo, era só uma segunda língua. Nós por cá temos o exemplo das canções do José Afonso, aquele surrealismo faz eco da matriz popular de onde foram inspiradas ou transcritas. Mas também nas do Lopes Graça. Isto para não falar de escultura onde podíamos começar pela Rosa Ramalho, família Mistério, …família Sapateiro…etc. A pintura da Frida como tu sabes também tem muito de EX VOTO. Registo de triunfo sobre a morte e o sofrimento.

1 comentário:

Lilazdavioleta disse...

Luis,
obrigada pela visita e carta iniciada no meu blog , e transformada numa óptima postagem ,
aqui.

Maria