sexta-feira, 25 de março de 2011

Coelho Pascal que tiras o pecado do outro.

Estamos a chegar à Pascoa é tempo de coelhos; amêndoas e coelhos.
Os coelhos são animais dóceis e doces, prestam-se ao sacrifício.
Qualquer coelho de cartola se torna num ser solene e até imponente, capaz de levar à certa o mais desprevenido, mas qualquer coelho de lacinho está sujeito a sofrer o efeito da varinha mágica e a ser transformado em chocolate.
O nosso coelho é de chocolate é para ser sacrificado, a pompa e os penachos não lhe faltam, mas as ideias que traz no cestinho são bichosas, minadas até ao caroço.
Assim neste carrocel o palhaço vai chegar ao anel suspenso, vai puxar o sino, e vai ter direito a outra viagem. Com ele talvez o coelhinho pomposo, e o peixinho da horta que já se viu no mar.
A não ser que o povo farto de circo queira agora pão.

Garça em pinheiro








"Mal ferida va la garça
enamorada;
sola va, y gritos dava."


"A las orillas de un rio
la garça tenia el nido;
ballestero la a herido
en el alma;
sola va, y gritos dava,"




Gil Vicente em "A Farsa de Inês Pereira"
canção de Diego Pisador

floresta e meia

quinta-feira, 24 de março de 2011

FMI, NÃO OBRIGADO

FAUSTO BORDALO DIAS, PRESENTE, SEMPRE! UMA CANTIGA DO DESEMPREGO

DESCONFIA DE QUEM NA TUA HORTA PLANTA ÁRVORES E FAZ SEU REPOUSO, BREVES ÁRVORES, SERRADURA DOS MÓVEIS QUE COMPRAS.




DESCONFIA DE QUEM NA TUA HORTA PLANTA ÁRVORES E FAZ SEU REPOUSO, BREVES ÁRVORES, SERRADURA DOS MÓVEIS QUE COMPRAS.

DA ALEMANHA SÓ MANHA.

Da Espanha nem bom vento nem bom casamento. Da Alemanha só manha.


 É como se o dono do stand nos impingisse um carro de luxo que não queríamos comprar, mais um crédito num banco de um amigo dele, crédito que se tornou ruinoso, e que desde o início não queríamos contratar. Agora o vendedor de automóveis diz-nos que temos de poupar nas despesas com o médico da avó e com a escola do filho, brevemente virá a nossa casa meter o nariz na nossa panela e dizer que gastamos muito azeite e que o melhor seria em vez de comer sopa fazer gaspacho para poupar no gás.


EU DIGO À VENDEDORA QUE JÁ LEVANTA A TAMPA: - ÂNGELA LEVA DE VOLTA O CARRO!


 

quarta-feira, 23 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

Dia Mundial da Àgua.

Aos 11 anos, aí pelo ano de 1973, numa enciclopédia da Life, em que se publicavam estatísticas e se faziam projecções para o futuro, descobri um mapa da Península Ibérica em que se previa a sua desertificação.

Todas as zonas do centro e sul de Portugal estavam coloridas com amarelo, como se as areias do Deserto Sahara tivessem atravessado o Mar Mediterrâneo de um lado e o Oceano Atlântico do outro.

Estes maricanos são malucos; quais deserto quais carapuça; o que sabem eles do que se passa cá?

Curiosamente tantos anos depois há gente a pensar como eu pensava quando era miúdo.
Fazem-se furos para regar campos agrícolas, e pior do que isso campos de Golf. Água que choveu há dezenas, centenas e mesmo milhares de anos é despendida a fazer crescer relva.

Portugal tem castelos, mosteiros e paços por todo o território. Foram construídos e reconstruídos pelos antepassados que aqui habitaram; muitos são anteriores à nacionalidade. Em todos eles existem grandes reservatórios subterrâneos que armazenam a água da chuva. Algumas destas cisternas são abastecidas por aquedutos. Temos aquedutos romanos de belos e altos arcos que atravessam quilómetros, outros construídos pelos mouros são subterrâneos usam, o princípio dos vasos comunicantes e pouca gente dá por eles, da Idade Média canais Cistercienses ainda afloram superficiais entre musgos, fetos e samambaias nas matas húmidas captando toda a água que as plantas gemem.
E nós os tipos mais instruídos de sempre, doutores, engenheiros, arquitectos, artistas de toda a espécie o que fazemos?
Vamos ao hiper-mercado ou à loja de conveniência comprar uma garrafa de água mineral e depositamos no lixo a garrafinha de plástico da nossa sede momentânea.

"Queremos para nós a carne, outros que roam os ossos."

Um menino, director de um tal jornal de negócios, disse que estamos à mercê do que amanhã for decidido no parlamento. Referia-se à aprovação de uma série de medidas do chamado 4º Plano de Estabilidade e Crescimento, medidas que desprotegem trabalhadores mais velhos com contratos de muitos anos; na prática a indemnização de um mês de salário por cada ano de trabalho tem um máximo acumulado de 12 meses, e cada mês de salário em vez de contar com 30 dias só contará com 20. Pois que eu saiba ainda é no parlamento que estas medidas deixam de ser medidas para serem lei, isto se uma maioria as aprovar, pois tal é o preceito da dita democracia representativa parlamentar. Estes jornalistas devem achar que a democracia é linda quando é a ideia deles a vencer, que é um aborrecimento quando tem de ter a aprovação da maioria. O menino jornalista que tem acesso ao templo que é a TV pública julga ser a maravilha entre sábios. Se o seu jornal é de negócios ele ainda não é um homem de negócios, mas lá chegará um dia. Por enquanto leva e traz, faz recados como este para a clientela do patrão:
Queremos para nós a carne, outros que roam os ossos.

domingo, 20 de março de 2011

Estuans Interius Ira vehementis



Estuans interius
Ira vehementi
In amaritudine
Loquor mee menti:
Factus de materia,
Cinis elementi
Similis sum folio,
De quo ludunt venti.
Cum sit enim proprium
Viro sapienti
Supra petram ponere
Sedem fundamenti,
Stultus ego comparor
Fluvio labenti,
Sub eodem tramite
Nunquam permanenti.
Feror ego veluti
Sine nauta navis,
Ut per vias aeris
Vaga fertur avis;
Non me tenent vincula,
Non me tenet clavis,
Quero mihi similes
Et adiungor pravis.
Mihi cordis gravitas
Res videtur gravis;
Iocis est amabilis
Dulciorque favis;
Quicquid Venus imperat,
Labor est suavis,
Que nunquam in cordibus
Habitat ignavis.
Via lata gradior
More iuventutis
Inplicor et vitiis
Immemor virtutis,
Voluptatis avidus
Magis quam salutis,
Mortuus in anima
Curam gero cutis





Queimando por dentro
com veemente ira,
na amargura,
falei para min mesmo:
feito de matéria,
da cinza dos elementos,
sou com a folha
com quem brincam os ventos.
Se é este o caminho
do homem sábio,
construir sobre a pedra
as fundações da casa,
então sou um louco comparável
ao rio que corre,
eu que em seu curso
nunca se altera
Sou levado
como um navio sem piloto,
como através do ar
um pássaro a deriva;
nenhum vinculo me prende,
nenhuma chave me aprisiona,
busco meus semelhantes,
e me junto aos insensatos.
Meu coração pesado
é um fardo para mim;
o divertir-se é agradável
e mais doce que o favo de mel;
onde quer que Vênus impere,
o trabalho suave,
ela nunca habita
em corações indolentes
Meu caminho é amplo
como o quer minha juventude,
entrego-me aos meus vícios,
esquecido das virtudes,
mais ávido de volúpias
do que de salvação,
morta minh’alma
só minha pele me importa.



Carmina Burana - Carl Orff

sábado, 19 de março de 2011

LÍBIA A NOVA ENCENAÇÃO DE UM CENÁRIO DE GUERRA BEM REAL a bem da Nova Ordem Mundial.

Quem faz negócio com tiranos, ainda que o não saiba, partilha a sua tirania.

Os motivos que hoje, os amigos dos tiranos invocam, para terminar a amizade, já antes existiam.
Não acredito que nada soubessem.
O negócio será agora outro.
O chamado Mundo Islâmico cheio de divisões a que não será alheia a sua génese tribal está, segundo a propaganda da nossa televisão, a ser unido forçadamente por um suposto intolerante radicalismo religioso proselitista e adepto do "terror".

O Mundo Ocidental das democracias de supermercado em que a escolha é virtual e o poder oscila entre dois partidos: republicano/democrata, conservador/trabalhista, socialista/social democrata continua triunfante e triunfal; apostando no entorpecimento dos seus cidadãos não pela religião mas pela televisão e derivados. Este ambiente de quem não é por mim é contra mim, propicia dialécticas de tudo ou nada, verdade ou mentira, bem ou mal.

O MAL, tão apreciado nesta nossa cultura, anda como alma perdida em busca de corpo para encarnar. Longe vai o tempo do Grande Mal de Leste, da Cortina de Ferro, Vermelho como o Inferno; esse sim uma Coisa como deve ser, a legitimar bombas, canhões e a carne respectiva para seu consumo durante décadas.
Que Saudade!
Agora é o que se pode arranjar um Bin aqui, um Sadam acolá, enfim um Muamar em último recurso.
A bem do Povo, da Democracia, dos Mercados e da NOVA ORDEM MUNDIAL.
E depois?
O povo escolherá em democracia o fim da democracia. Tudo fluirá até que os Mercados achem que não, e lhes leve a Guerra e a escravidão.
Talvez de novo alguém lhes pergunte: QUEREM A GUERRA TOTAL? -e os verdugos amordaçadores respondam em nome dos manietados- SIM! SIM! SIM!




Frankie Goes to Hollywood - War

sexta-feira, 18 de março de 2011

Um Mestre chamado Pedro Mestre e a Viola Campaniça

Japão, o que fazer?

 Vivemos de uma maneira totalmente dependente da nossa tecnologia.
Somos muito frágeis e qualquer sobressalto significativo pode-nos fazer caír numa forma de sociedade primitiva.
Não sei porque não mudamos rápidamente de prioridades, porque continuamos a olhar o nosso umbigo e a nossa vidinha de pequenas insignificâncias torpes.



 No Japão a área de desastre é de cerca de 500 km. Os números oficiais admitem 6 000 mortos, 10 000 desaparecidos.
 Após uma semana do terramoto e maremoto de Sendai, as populações têm de viver em 2200 centros de abrigo onde velhos, doentes e pessoas mais vulneráveis morrem à míngua de medicamentos, de comida e de frio.
 As temperaturas são baixas, neva e chove, a energia eléctrica é fornecida apenas durante algumas horas ou não há de todo. Não há água, não há gás. Falta combustível mesmo para os camiões de ajuda que assim ficam imobilizados.
 Pior do que tudo,a central nuclear de Fukushima com 6 reactores entrou em colapso e a situação é apocalíptica, nunca houve nada assim e a radioactividade irá chover em todo o Oceano Pacífico entrando na cadeia alimentar global.
 Esta instalação tem sérios problemas desde há 35 anos, as entidades internacionais sempre tiveram sérios problemas para obter relatórios não falsificados sobre as condições da sua operacionalidade em segurança, e agora talvez seja tarde demais.
 Os endinheirados de Tóquio começaram já a abandonar o país. As lojas de Guinza sempre cheias e iluminadas estão sem luz, no interface de Shibuya os relógios pararam os gigantescos televisores de apelo ao consumo estão desligados, só os comboios continuam pontuais.
 Os helicópteros das forças militares de defesa do Japão regaram a área sobre a piscina de armazenamento de "varetas" do dito combustível nuclear do reactor 3. Entre outros, 350 bombeiros, voluntários para a missão, saíram de Tóquio com os seus carros equipados com tanques canhão que conseguem projectar toneladas de água a 80m de distância.
 Não posso deixar de pensar em Chernobyl e no sacrifício dos voluntários; alguns ditos voluntários foram obrigados a tal devido à sua condição militar sem direito a recusa. Chernobyl afectou 2,3 milhões de pessoas, número oficial das autoridades, pessoas prematuramente mortas ou com doenças terminais derivadas.

domingo, 13 de março de 2011

ARMÉNIA - Djivan Gasparyan e o Duduk

Duduk


Não conheço outro instrumento musical que como o Duduk possa transmitir um sentimento de plenitude. O som vibrante provoca essa sensação de presença plena, de imponderabilidade e desprendimento que é característico da meditação. O corpo parece flutuar e atinge uma preliminar serenidade. O Duduk entre todos os instrumentos tradicionais é considerado pelos arménios como o instrumento da Arménia.

Pensa-se que o nome é onomatopaico, ou seja, deriva duma palavra que descreve o seu som: du-du.

O som pode ser confundido com o som do ney que é uma espécie de flauta tocada em posicionamento lateral aos lábios que sopram fazendo simultaneamente o som du-du. Em língua turca o nome ney significa cana de junco que é o material com que essa flauta é feita. A cana de junco também é o material com que se fazem as palhetas que à semelhança do oboé são utilizadas no duduk. Duduk e ney, qual deles terá inspirado o outro. O duduk é um instrumento muito antigo e inicialmente era feito a partir de osso como as antigas flautas; posteriormente passou a ser feito da madeira de damasqueiro que é uma árvore tão abundante na Arménia que recebeu a classificação latina de Prunus armeniaca. O som de veludo com que por vezes se descreve o som do duduk para o distinguir do ney talvez não seja alheio à imagem da pele do fruto. O albericoque nome derivado do grego/latim (praekokion/praecoquus) literalmente cedo na Primavera, descreve a breve época do ano do seu aparecimento; o nome damasco deriva do nome da cidade síria de Damasco grande entreposto de comercialização do fruto sêco e do óleo de amêndoa que incluía precisamente o óleo de amendoa amarga sendo estas amêndoas amargas retiradas não das amendoeiras mas sim do interior dos caroços dos pêssegos de abrir nos quais estavam incluídos os albericoques; alperce que é uma outra designação que se utiliza em Portugal, deriva da outra origem do fruto, a Pérsia.Foi também essa suposta origem que deu o nome latino aos pessegueiros Prunus persica, este persica, o perse, na boca de comerciante falante de árabe é al perse. É curioso como a linguagem e o próprio conhecimento evoluem registando erro após erro a ignorância dos eruditos de cada momento histórico, a etimologia é de facto o registo da ignorância e da deturpação até onde a memória ou o registo conseguem retroceder. A própria história não passa do registo do relato da verdade parcial ou mesmo da própria mentira. Nenhum destes frutos teve origem aqui na Arménia ou Pérsia e sabe-se que vieram da China através de um percurso que mais tarde se convencionou chamar rota da seda. No mundo antigo à medida que as civilizações prosperam, o comércio expandiu-se e a ligação entre a Índia e a Mesopotâmia estabeleceu-se; aumentou em quantidade e qualidade a circulação de bens nos quais se incluem plantas, frutos e a sua forma compacta, as sementes. Dizem os agricultores que a semente do damasqueiro não frutifica longe da árvore que lhe deu origem, isto significa que a planta necessita das mesmas condições a nível de solo e clima que a sua antecessora e que só ao longo de gerações se dão as mutações que permitem que a planta se vá adaptando a condições diversas. Uma planta que resiste a 30 graus negativos em Janeiro pode ser tão sensível à geada de Março que perde toda a sua frutificação.

Um damasqueiro pode durar 80 anos, o seu apogeu produtivo está entre os 7 e os 40anos, a madeira da raiz de onde se obtém a matéria-prima para o duduk tem de secar 35 anos. Só após esse tempo a madeira adquire a maturidade para a sua reverberação ser adequada ao som do instrumento.
O som de um conjunto de dois Duduk assume uma pungência extrema, pois que tradicionalmente um deles assume uma linha melódica continua, à semelhança de um bordão ou um baixo contínuo, mas apesar disso só com muita técnica se consegue retirar esses sons que ressoam no ventre e acalmam o coração.Contudo alguém como Djivan Gasparyan tornam a audição numa experiência particular e inesquecivel.

Melhor que as palavras é ouvir.



Sharzad Ensemble a Cultura Iraniana é Cultura Universal como de facto é toda a verdadeira Cultura.

sábado, 12 de março de 2011

A IGNORANCIA NÃO É POR SI SÓ, UM MAL SEM REMÉDIO , MAS A ARROGANCIA É UMA ESTUPIDEZ IRREMEDIÁVEL QUE QUANDO NÃO É PARA RIR PODE MATAR QUALQUER UM QUE SEJA APANHADO NO SEU TROPEL. RESTA DIZER: ABENÇOADOS SEJAM OS GALEGOS NOSSOS IRMÃOS!

OS IMPOSTORES DA LUTA - DUETO DE EMBUSTEIROS QUE BREVEMENTE PODE ENCONTRAR NUMA MANIFESTAÇÃO PERTO DE SI.

Um farsante que dizia ser bruxo, ofereceu em tempo os seus serviços a um pequeno clube regional de futebol que de azar em azar andava arredado de qualquer espécie de triunfo. Este dito bruxo contou mais tarde o muito que se divertiu ao iludir e manipular dirigentes, jogadores e adeptos com as suas pagelanças e macaqueações. Maior foi ainda a sua folia quando achou insuficiente o que conseguia em dinheiro e em géneros da pobre gente e ao retirar-se acusando-os de pouca fé, viu as suas vítimas de joelhos no chão implorarem-lhe que não os abandonasse. - Estúpidos! - clamava o bruxo – Atrasados! – Por fim, para que não o aborrecessem mais, tentou dizer a verdade e revelar que os seus rituais e responsos eram todos a fingir, que os tinha andado a enganar, mas mesmo assim as suas vítimas continuaram pedindo o seu retorno.




Neste ano de 2011 de forma aparentemente inesperada, o festival da canção nacional para a Eurovisão foi ganho por um duo humorístico que costuma alinhar por uma cadeia de televisão privada, concorrente da televisão estatal que organizou o festival.

O festival da Eurovisão que sempre foi apontado como programa de interesse artístico menor, fora de moda e tendencioso, devido à forma como os vencedores são escolhidos pelos patrocinadores que detêm as companhias editoras e não só, não deve ser a nível nacional outra coisa do que o espelho da realidade internacional.

A vitória do duo através dos telefonemas dos espectadores deve ter sido tudo menos um acaso, a meu ver foi um cavalo de Tróia que entrou na televisão estatal.

O duo cómico pretende assumir visualmente um convencionado estereótipo que distintos fazedores de opinião acham ser a imagem do PREC (Período Revolucionário Em Curso), ou seja: Dois agitadores reivindicantes que encabeçam movimentos populares à imagem dos que existiram nos meados dos anos setenta. Um desses fazedores de opinião, apresentado como professor por dar notas com a mesma facilidade com que deita perdigotos a bombordo e a estibordo, afirmou que eles eram o PREC, para que não houvesse dúvida entre os mais jovens que não se lembram ou não viveram o dito período.

Um dos elementos do duo apresenta-se com uma boina basca preta, grandes óculos, e um violão onde toca em rasgado acordes repetitivos enquanto vai trauteando onomatopeias para arremedar um famoso cantor já falecido, muito importante em termos musicológicos e muito querido da chamada esquerda. O outro assume uma apresentação desleixada, com cabelo comprido engordurado, bigode desalinhado e barba de três dias, vestindo fatiota meia descomposta e muito justa ao corpo à maneira dos anos setenta do século passado; empunha um megafone onde vai papagueando uma lengalenga nasalada, pontuada por palavras que repete periodicamente: camaradas, povo, luta, …

A ousada aparição deste duo burlesco que se infiltra em manifestações e protestos autênticos, acontece sempre que as três cadeias nacionais de televisão estão gravando imagens. A sua inusitada presença pode apanhar desprevenido quem na rua mostra publicamente a sua indignação, mas uma observação mais atenta detecta que estes personagens não vieram para se juntar ao protesto mas sim para o caricaturar e fazer pouco de quem protesta. Por isso talvez não seja por distracção nem por inocência que os canais comprometidos com o poder económico e com a finança percam mais tempo a mostrar a manobra de diversão do duo em vez de esclarecer a razão do protesto que eles decidiram ridicularizar.

Nas eleições presidenciais brasileiras o palhaço Tiririca foi candidato à maneira do que Coluche fez em França; aqui em Portugal o candidato presidencial Coelho usou de mordaz ironia à semelhança destes, mas o alvo de todos eles era o poder corruptor e corrompido, não os mais fracos. Talvez seja sinal deste tempo, em que os valores parecem invertidos, em que os especuladores criam riqueza artificial à custa de fazer muitos pobres para enriquecimento de poucos ricos.

Ao ver estes dois impostores pantomineiros e a reacção tolerante dos manifestantes que interceptam, não posso deixar de me lembrar das facécias do bruxo. Lembro-me também do português que no Brasil ouvia anedotas sobre si e do alentejano que contava anedotas de alentejanos. Todos eles têm a grandeza de alma de não se importarem com o que é pequeno. Parecem mesmo legitimar que falsos bobos lhes façam vestir a farpela de bobo.

Porém a história ensina e avisa; tenham cuidado os trocistas e opressores que sem pudor têm o descaramento de troçar dos explorados. Quem tudo já perdeu nada tem a perder.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Carnaval -a carne vale.

Dão-nos os pais em fardo o que melhor ajuizaram ser nosso sustento futuro. Bem à maneira do deus que escreve nas linhas tortas agarramos nesse fardo esmagador e derramamos os grãos nessa ausência cava com forma de buraco redondo chamado mágoa e trituramos nossa carga alienando-a como um lastro. Aliviamos com o movimento perpétuo, fechado em ciclo, o círculo de pedra picada que temos na alma. O peso soterrante da nossa herança feito em pó, assim vai. Desprendemo-nos da farinha que vai ser pão quotidiano e bolo da festa de outros. A bênção com que nos amaldiçoaram alimenta a fome alheia. À margem olhamos a felicidade dos que se nutrem, conscientes de si e esquecidos de nós.

domingo, 6 de março de 2011

ISABELA FIGUEIREDO - CADERNO DE MEMÓRIAS COLONIAIS

Não sou dado a leituras por ofício, dever ou passatempo. Já passei o tempo de ler por atacado. Não leio nem ao metro nem ao peso. Leio quando sinto falta de saber alguma coisa, ou quando os amigos me dizem para ler o que entendem merecer ser lido. Mesmo assim não faço fretes e só leio o que não posso deixar de ler. Faulkner terá dito que o escritor devia cativar o leitor nas primeiras páginas e para isso tinha de o agarrar pelas tripas. Julgo pertencer a esse tipo renitente de leitor que precisa de ser assim agarrado para não abandonar o livro.

Caderno de Memórias Coloniais


Alguns escritores possuem uma escrita que consegue agarrar as minhas tripas. Não entendo como fazem, a técnica literária que António Lobo Antunes diz estar exposta à vista de todos os aprendizes de escritor nos livros de Faulkner, é para mim transparente como ar fresco. Esses escritores, essa escrita, provocam algum tipo de amadurecimento transcendente do meu olhar, nesses escritores a paisagem é mais nítida, os personagens da narrativa despem e vestem variadas roupas de fantasia que habitualmente não consigo distinguir na realidade.
AQUI AO LADO TEXTOS COMO OS QUE QUE DERAM ORIGEM AO LIVRO VÃO SENDO PUBLICADOS NO BLOG DE ISABELA FIGUEIREDO:
 NOVO MUNDOhttp://novomundoperfeito.blogspot.com/