terça-feira, 17 de maio de 2011

FMI e Europa lucram 2444 milhões com o resgate ao País - LUÍS REIS RIBEIRO - Diário Notícias

Título: FMI e Europa lucram 2444 milhões com o resgate ao País Data: 17-05-2011

Fonte: Diário Notícias Página(s): 6
Autor: LUÍS REIS RIBEIRO C/ Foto
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FMI e Europa lucram 2444 milhões com o resgate ao País

Taxa. Ministro das Finanças diz que, com as condições actuais, País pagará juro médio de 5,1 % pelo empréstimo. Dá 3980 milhões de euros em juros. E tendência é para subir

LUÍS REIS RIBEIRO



A União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) deverão significar uma factura de quase quatro mil milhões de euros em juros com o resgate a Portugal, mais do que o Estado gasta por ano em investimento público. A margem de lucro, isto é, descontando o custo dos credores no acesso ao dinheiro, rondará os 2444 milhões de euros.



Ontem, ao final da noite em Bruxelas, à saída da reunião do Eurogrupo que aprovou os termos do resgate português, o ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, deixou implícito o valor da factura em juros e avisou ainda que "não há condições" para que o País tente rever as condições financeiras do empréstimo.



Teixeira dos Santos avançou também que a primeira tranche do bolo dos 78 mil milhões de euros vai chegar no final deste mês, início do próximo (ver texto em baixo) e que "se fizermos as contas", à luz das condições de mercado actualmente vigentes, Portugal pagará uma taxa de juro em redor de 5,l% pelos empréstimos. É melhor do que o custo médio suportado pela Irlanda (5,7%), mas em linha com os 5,2% inicialmente cobrados à Grécia. Valor que está a ser renegociado pois este país não está a aguentar a pressão financeira e económica.



Os créditos a Portugal terão uma maturidade média de 7,5 anos. O pacote irá ser disponibilizado em três parcelas iguais de 26 mil milhões. Uma do FMI, outra do fundo europeu (Zona Euro) e outra do mecanismo europeu (União Europeia).



Em declarações aos jornalistas, emitidas através do site da Comissão Europeia, o ministro lançou ainda um sério aviso: "não vejo pela discussão havida [no Eurogrupo] que haja espaço para que sejam revistas essas condições" em matéria de taxa de juro a suportar pelos contribuintes e de prazo de pagamento dos empréstimos. E mais: "ninguém está em condições de prever qual será a evolução das taxas de juro nos próximos 7,5 anos".



Recorde-se que estas taxas de juro de mercado - que não são mais do que o custo de financiamento de base da União Europeia, Zona Euro e FMI em nome de Portugal estãoa subir e que o Banco Central Europeu (BCE) também já iniciou uma trajectória ascendente nuas taxas directoras, depois de vários anos em mínimos.



De acordo com cálculos do DN, os portugueses vão desembolsar, no mínimo, 3978 milhões de euros em juros, aplicando a taxa de 5,1%. Dois terços (2652 mil milhões) cabem à parte europeia, o resto (1326 milhões) são os juros do lado do FMI.



No conjunto, Portugal pagará mais em juros do que o valor total dedicado a investimento público previsto para este ano (rondará 3.807milhões, segundo o INE).



Mas é possível antecipar já qual pode ser o lucro destes credores: a parte europeia arrecadará, a preços actuais, cerca de 1872 milhões de euros ou mais, o FMI ganhará no mínimo 572 milhões de euros de margem. No caso europeu, esse lucro resulta da diferença entre a taxa final (que rondará os 5,7%) e a taxa de mercado (Euribor a um ano, que ontem valia 2,15%). No caso do FMI, a margem surge da diferença entre as taxas finais (3,25% ou 4,25%) e a taxa de base, avaliada por Antonio Garcia Pascual, do Barclays Capital, em cerca de 1,55% ao ano.



Assim, o resgate dos 78 mil milhões reverterá para os cofres dos credores qualquer coisa como 2444 milhões de euros. E muito mais do que isso em medidas de austeridade destinadas a conter salários, reduzir apoios sociais e aumentar impostos.



Ontem, o Eurogrupo - o conselho informal de ministros das Finanças da Zona Euro - reuniu-se em Bruxelas para fechar os termos do plano de ajustamento financeiro e económico português. Durante a tarde, fizeram uma curta declaração na qual anunciaram a aprovação do pacote dos 78 mil milhões por "unanimidade". Os líderes europeus reiteraram os objectivos da "ajuda", o facto de ter havido consenso e de Portugal ter agora, depois da visita da troika, um plano "ambicioso" e que "salvaguarda os grupos mais vulneráveis na sociedade".O encontro também serviu para discutir a situação da Grécia, que estará a tentar suavizar o calendário de pagamento do empréstimo e obter novas linhas de crédito. Teixeira dos Santos foi claro: mantém-se tudo como previsto, excepto que o país terá de tomar "medidas adicionais" de austeridade.

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