segunda-feira, 9 de maio de 2011

FUI À FEIRA DOS LIVROS

Fui à feira dos livros.


Antigamente havia a feira do livro. Nesse tempo o livro era uma espécie de objecto de veneração digno de culto. Nesse tempo as pessoas não compravam livros; eram caros e só por deformação profissional alguém poderia ter em casa livros que já tivesse lido, alguém assim como um advogado ou um médico ou um professor.

Depois veio o tempo em que toda a gente podia falar de tudo, ter opinião sobre o que quer que fosse, e nessa altura muito se lia e se ouvia dos outros sobre o que tinham lido. Tanto se lia só por ser proibido que não se percebia, no que se lia, porque tinha sido proibido.

Nesse tempo os livros entraram na moda e na moda da decoração doméstica. Vendiam-se livros a metro, encadernados em imitação de pele com letras douradas, na lombada em azul, vermelho castanho, preto, pérola… Não havia novo-rico que não tivesse enciclopédia nem remediado que não sonhasse com ela. Até os operários tinham livros e coleccionavam; lado a lado Lenine e Ágata Christie, O Kamasutra e O Tesouro das Cozinheiras…

Isto durou mais ou menos até aos anos 90 quando um poeto-escritor e tradutor da nossa praça; muito ligado ao Senhor Silva, à direita e a cigarrilhas, charutos e outras coisas mal cheirosas, disse ter tantas toneladas de livros. O efeito desmoralizador foi notório no povo leitor que acumulava livros. Contas feitas, poucos seriam os que ao fim de uma vida longa teriam aquelas toneladas de livros para que elas por eles falassem, às gerações da sua descendência.

Esse tempo foi-se, a feira do livro passou a ser a feira dos livros. Agora a feira é muito mais feira: farturas, comes e bebes, ginjinha de Óbidos, café Toffa, gelados Olá, Pita Shoarma e espaços para sentar e autografar livros, para ouvir palestras, ver filmes; para as crianças terem “actividades”. As antigas barracas metálicas formais e conformadas agora assumiram a imagem do grupo editorial, no caso dos editores e livreiros que venderam o negócio ou passaram a estar debaixo do mesmo jugo da marca editorial.

A julgar pelo número médio de livros que diariamente se editam em Portugal - 55 por dia - o negócio dos livros só pode dar dinheiro. Não sei como dá dinheiro mas quando se vê um empresário pomposo e pedante que diz não gostar de livros nem gostar de ler, investir os cabedais a comprar editoras e com elas criar um mega grupo editorial, é porque ganha dinheiro.

Também há o caso de um banqueiro pré-reformado, expulso pelos seus cinzentos pares de um famoso banco, envolto em polémica e nevoeiro que com a sua indemnização milhionária, e a sua obscena reforma milionária decidiu investir numa editora. Neste caso o soturno Senhor diz adorar o objecto livro. Talvez por ser monárquico diz também adorar uma célebre escritora do norte que escreve uns livros barbudos sobre a corte do norte e outros a norte instalados. Ora um banqueiro nunca perde dinheiro, pelo menos o seu dinheiro.





Visitava eu a feira dos livros quando empilhado no fundo de uma prateleira, com a lombada de pernas para o ar; encontrei este livro magnífico. Resgatei-o do seu exílio. Desconfiado, ou paranóico, conjecturando na teoria da conspiração, não fosse o título uma afronta à imagem do grupo editorial onde a editora agora se insere, perguntei a um dos empregados, agora chamam-lhes colaboradores, porque estava aquele livro e toda a colecção de que ele faz parte escondidos no fundo de uma prateleira junto ao chão no canto daquele pavilhão. O colaborador disse-me que não, que era ideia minha, que se viam bem, que calhou aquele ter a lombada ao contrário, que não se viam as capas mas que nas estantes das livrarias também não…
Já sei porque lhes chamam colaboradores, é que um funcionário livreiro pedir-me-ia desculpa pela forma como estava exposto o livro; um bom empregado livreiro arranjaria forma de expor melhor os livros e um bom empregado livreiro que fosse trabalhador, aceitaria a minha sugestão, exporia algumas capas ordenaria as lombadas de novo.
Os livros estão muito caros. Mas não foi o caso deste.
Mesmo que fosse caro o seu preço não pagaria o quão precioso ele é por aquilo que revela.
O nosso Mundo, todo o nosso Ecossistema e os Povos que dele fazem parte estão à mercê de gente sem escrúpulos, cega pelo lucro e pelo poder. O FMI, o Banco Mundial, os Amigos Anglo Americanos, mas também muitos outros actores menos suspeitos como a ONU, estão por trás de guerras e genocídios, miséria e fome, desastres ambientais e crimes de toda a espécie.
"VEMOS OUVIMOS E LEMOS NÃO PODEMOS IGNORAR"

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