quinta-feira, 29 de março de 2012

O COMPORTAMENTO SENHORIAL - A TIGELA DE SÔPA

"A caridade daquela casa era uma bênção, ao contrário de outros Solares da região, até a comida esmolada era avonde.
O palafreneiro retirava a grande tigela da palamenta dos mastins e nela o monteiro ou a mulher vertiam o caldo que a custo duas pessoas conseguiam comer.
Abençoavam todas aquelas léguas de caminho que faziam para pedir trabalho.
Acabada a jorna ceavam pão e um pedaço de toucinho alto; alvo como um queijo fresco e na grande malga onde tinham comido o caldo do jantar botavam-lhes vinho tinto sem parcimónia. O vinho que frutificara naqueles chãos por eles acartados e sustentados pelas muralhas construídas com a pedra que partiam e arrancavam da serra.
Naqueles dias de fome em que nem a sêco se conseguia trabalho, louvavam a Deus por tal saciedade.
Desciam ao povo cantando alegremente numa romaria feliz e agradecida, confortados pela temperança com que o vinho lhes invadia a alma e lhes afagava o corpo cansado, consolados com o repouso da noite que os envolvia."

 O COMPORTAMENTO SENHORIAL - Duarte Pinto de Tavares

Sem comentários: