quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pobres de nós gordos que somos a nova imagem da fome.



A fome, toda a gente sabe, era uma coisa de tempos antigos, uma consequência de grandes catástrofes ou de um acidente maior como a guerra.

A fome contemporânea, essa dava notícia de terras remotas onde o empenhamento em chegar lá era menor do que ir até à Lua. Terras perdidas nos confins de África ou da Ásia. Desconhecidas e desérticas, onde chegavam carros de rali e bombardeiros mas não os sacos de sementes nem os engenhos de furar poços que dessem água limpa ou o conhecimento para fazer represas e cisternas que guardassem a água quando houvesse chuva.

A fome andava a par com a pobreza e precedia a doença nesse cortejo apocalíptico cuja personagem derradeira é a morte. A fome era persistente e quotidiana. Era imaterial e volátil. Cada dia pesava menos na balança...
 Mas tudo muda.


A fome agora é diferente. A fome saiu dos locais onde andou proscrita e agora senta-se entre nós. A fome agora é obesa todos pensam que é abundância mas não passa de fartura feita de míngua, de escassez do que é essencial. A fome senta-se à frente de um prato de massa com molho de tomate e farta-se como um viciado que perde a razão, como se não houvesse amanhã, como só restásse comer e esperar a morte. 
A fome neste pobre mundo rico instalou-se na calote norte e dormita inerme na sua obesidade. 
Não basta mais aos ilustradores apocalípticos representar a fome como um ser esquelético, andrajoso e decadente, a fome agora bem pode ser o retrato de um ser jovem, hiper-sensível e extremamente obeso.