segunda-feira, 19 de agosto de 2013

PIETRO PASSI RABBIT O BARÍTONO-BUFFO NA OPERETA ANTICONSTITUCIONALÍSSIMAMENTE

Entre nós para dar início à temporada lírica o grandessíssimo barítono-buffo Pietro Passi Rabbit interpretará o papel do Rapaz na Opereta: "ANTICONSTITUCIONALÍSSIMAMENTE"

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A Batalha de Aljubarrota - Antão Vasques de Almada e a infusa de água de S. Jorge.




   


 
 Ilustrações das Crónicas de Jean Froissart sobre a Batalha de Aljubarrota.







Antão Vasques de Almada combateu em Aljubarrota e nessa Batalha foi armado cavaleiro.
Comandou duzentos Lanceiros e cem Besteiros da Ala Esquerda do Exército Português à qual chamaram a Ala da Madre-Silva. Foi o responsável por um acto de bravura enorme que foi a captura da Bandeira de Castela. Mas o seu nome está associado a um feito maior.

Nessa batalha que decorreu num dia abrasador de Agosto o maior inimigo era a sede.
A falta de água nessa altura do ano e a escassez de fontes para abastecimento, fez com que D. Nuno Álvares Pereira encarregásse Antão Vasques de Almada de encontrar água para a saciedade do sequioso exército. O ainda escudeiro procurou em vão até que desesperado se apeou do cavalo e de joelhos no chão fez prece a Deus e fez Voto a S. Jorge que caso encontrásse água, ali naquele local sempre haveria uma infusa de água fresca para o viandante que passásse fosse peão ou cavaleiro.
Antão Vasques de Almada encontrou água com fartura para abastecer todo o exército.
A lenda diz que uma camponesa lhe presenteou a infusa com água fresca e por mais que bebêsse a água não se extinguia na bilha, diz a lenda que a cântara passou de mão em mão e todos tiveram que beber.
Ainda hoje passados 628 anos este EX-VOTO se mantém. Na terra que hoje se chama S. Jorge há uma igreja com um nicho onde uma infusa de barro com água fresca aguarda para matar a sede a quem passa.

 












sábado, 10 de agosto de 2013

Tintinnabulum priápico



Tintinábulo é já em si um nome onomatopaico, descreve e reproduz o som tim-tim que os vários sinos fariam sempre que algum golpe de vento ou algum estremecimento perturbasse a tensão dos finos fios que os sustentavam.

Os tintinábulos são comuns a várias culturas mas assumem uma relevância na cultura latina e duram até hoje no pescoço dos animais desde as versões maiores dos chocalhos até às mais pequenas versões dos guizos.

Sobrevivem também nas campainhas das portas e no culto religioso Cristão Católico Romano.

Lembro-me que na casa rústica do meu avô havia uma campaínha suspensa por um arco de volta perfeita, feito de uma aduela de aço, pendurado na porta de serventia da casa. Essa campainha soava ao mínimo movimento da porta mesmo nas pequenas oscilações do cordel que a mantinha sempre aberta. Essa campaínha não se destinava a ser tocada por ninguém pois não tinha nenhum fio que a puxasse. Quem se acercava da porta do quinteiro gritava pelo nome da Dona ou do Dono da casa, os reconhecidos na casa que os cães deixavam passar ficavam no início da escada e batiam palmas enquanto repetiam o chamamento.

Lembram-me também as campaínhas de lojas comerciais de outros países em que o frio obriga a que as portas se mantenham fechadas no trinco. É claro que quando alguém abre a porta alerta o comerciante caso ele se encontre em sítio que não lhe permita observar a entrada mas essa tradição tem um antecedente arcaico que reside na crença do poder do som.

O som ter um poder apotropaico, de afastamento do mal de inveja, do olho cobiçoso, e mesmo o poder de afastar os furtos dos gatunos e os roubos dos ladrões.

Os tintinábulos priápicos são fascínios ou seja, são feitiços. Neste caso não se destinam a atrair mas a afastar o mal. Na antiguidade são usados nas portas das habitações, nas janelas, sobre as camas das crianças, pendurados ao pescoço, em pulseiras, no cordame e nos mastros dos navios.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Priapos uma protecção contra os ladrões.





 Priapos filho de Afrodite e de Dionísos era um deus rústico da fertilidade na Antiga Ásia Menor; a região onde fica hoje a Turquia. A primeira menção a este deus aparece numa peça de teatro de Xenarchus no século IV anterior à nossa era. Nesse tempo a Ásia Menor era uma colónia que pertencia ao Império Grego. Existem várias lendas e narrativas de autores clássicos sobre Priapos de modo que não é claro se são variantes de uma mesma tradição ou se são tradições diversas que se aglutinaram.

Origináriamente Priapos como deus da fertilidade era patrono dos jardins, das hortas, das vinhas, das plantas com fruto, das abelhas e dos rebanhos. Desconheço porque era também protector de pescadores e marinheiros, mas sendo um deus apotropaico dos bebés e dos genitais masculinos, admito que os antigos viram nele um protector dos homens em aflição.

Este deus grego tornou-se muito popular entre os romanos e a crença na sua capacidade de afastar o mal expandiu a sua influência à própria casa. Acreditava-se que protegia a casa dos ladrões, da inveja e do mau-olhado.

Era pois normal haver figurinhas de Priapos espalhados pela casa e no seu exterior.

Julga-se que mesmo no nosso tempo existem reminiscências dessa velha tradição. Uma das imagens para a representação de Priapos talvez tenha estado na origem da forma das estatuetas dos duendes que ainda hoje se colocam nos jardins. 
Curiosamente a cor verde dos duendes é a cor natural do bronze oxidado e os barretes vermelhos que ornamentam as suas cabeças remetem para o costume romano de pintar Priapos com tinta vermelha de zarcão ou cinábrio.

A colocação de estatuetas no exterior, em locais de passagem, em caminhos e encruzilhadas talvez tenha levado a que houvesse uma associação de Priapos não só aos viajantes mas também à protecção territorial. À semelhança do que aconteceu com a protecção da casa a protecção de Priapos alargou-se às linhas de delimitação e de fronteira. Isto porém leva-me a pensar que Priapos terá dado nome a marcações da paisagem, territoriais ou não, que eram muito mais antigas; como é o caso dos menires.

Em fase mais tardia no território do Império Romano, Priapos passa a ser visto como um deus de tabernas e lupanares, mais associado à virilidade do que à fertilidade.

Hoje em dia de Priapo só ouvimos falar por causa de uma enfermidade que dá pelo nome de priapismo e que a medicina descreve como uma erecção longa e dolorosa.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Cadentes

Queda do cavaleiro
Queda da mula
Queda dos machos
Queda das bestas.

Do Cavalo de Troia não caiu cavaleiro.
O Cavalo de Troia não tinha cavaleiro. 
Os troianos trouxeram para Troia o Cavalo.
Quando os troianos caíram em si de tamanha insensatez era tarde de mais, tinham caído na armadilha.
Troia caiu.







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terça-feira, 6 de agosto de 2013

Argumentação e Fala do Polícia Bêbado, na reforma, ao Banqueiro Cevado, após este ter escapado de ser sovado por um desempregado sem abrigo que dormia na porta do Banco e sobre o qual ele Banqueiro, aliviara a bexiga dos uísques que estivera a beber na reunião da Comissão Executiva.

-São uns calaceiros não querem trabalhar! Vai mas é dormir para a rua que à porta do Banco nunca mais dorme. Esteja descansado Soutor que desde que eu esteja na portaria da segurança isto não volta a acontecer.
Por isto é que os subsídios eram bem acabados! Andamos aqui a trabalhar para estes malandros.







segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Os irmãos Mendes.



…Os irmãos chamavam-se Mendes entraram depois do Natal. Eram morenos. Muito magros. O cabelo à escovinha. Sempre cabisbaixos, de olhos no chão. Tinham cicatrizes nos braços e nas pernas, eram esquivos como animais acossados. Não conviviam com ninguém da aula. Eram duros como eu nunca tinha visto. Não largavam um queixume quando o Baptista os sovava com brutalidade.
 O mais pequeno por vezes afastava-se e chorava sózinho no recreio. Aparentemente sem razão alguma. O mais velho ficava a guardá-lo abraçando-lhe o choro e limpando-lhe o ranho com a manga.

 Os Mendes não tinham mãe, eram vítimas de uma infelicidade maior. As pancadas e golpes que como giz riscavam a sua pele não os projectavam, nem para um horizonte mais vasto, nem para um conhecimento mais profundo do que aquele que a sua iniciação já lhes outorgara.

Um dia o pai dos Mendes que era baixo, largo e sólido e tinha um cabelo muito farto, negro e brilhante, bateu à porta da sala de aula e entrou antes que o Baptista autorizasse.



-Tem que esperar pelo intervalo! Não pode interromper a aula!

-Já tratei tudo com o director. Os meus filhos aqui não aprendem nada, eu preciso de me governar e eles precisam de aprender uma profissão que os sustente… E têm tempo de levar pancada na vida. Para o corpo que têm, já levaram mais do que a que mereciam.



Isto passou-se antes da Páscoa no dia a seguir ao Baptista ter dado um bofetão no Mendes mais velho que lhe fez soltar sangue do nariz. O Baptista ficara preocupado com o sangue na bata branca, o sangue custou a estancar. O Baptista foi duas vezes à casa de banho mas não conseguiu tirar a nódoa de sangue da bata. Desistiu e mandou a contínua levar a bata e trazer a outra que tinha de reserva na sala onde a esposa dava aulas. O Mendes ficou o resto da tarde com rolhões de algodão a serem trocados à medida que ele os ia ensopando em sangue.
Nunca mais vi os Mendes, mas até hoje lembro a margem onde ficaram. E lembro-me da sua força e da sua tenacidade.

domingo, 4 de agosto de 2013

Amália canta "Soledad" poema de Cecília Meireles e música de Alain Oulman. Teatro Esmeraldo, Milão 21 de Novembro de 1992.


O FADO DOS FADOS. O mais belo Fado que conheço "Soledad" - Um poema extraordinário de Cecília Meireles com uma maravilhosa melodia de Alain Oulman.

Este é o mais belo fado que conheço! 
Tem a dimensão dramática da obra abruptamente interrompida. 
Nele está a mágoa do sonho por realizar. 
Com ele experimento a angústia e o desespero daquilo que não chegou a ser. 
A comoção profunda que me provoca é com certeza aquilo que se descreve como sendo a Saudade.
Aqui o sofrimento provocado pelo destino trágico é em antecipação um Requiem , um Fado.

O espírito dos pungentes versos do poema, que narra o destino fatídico da pequena Soledad, talvez tenha sido um prenúncio. O prenúncio que este fado teria a sua vida interrompida.



Soledad, antes que o sol se vá
Como um pássaro perdido
Também te direi Adeus
Soledad, Soledad
Também te direi Adeus

Terra, terra morrendo de fome

Pedras secas, folhas bravas
Ai quem te pôs esse nome?
Soledad, Soledad
Sabia o que sei, palavras...

Antes que o sol se vá
Como um gesto de agonia
Cairás nos olhos negros
Soledad

Indiazinha, Indiazinha tão sentada
Na cinza do chão deserta
Que pensas, não pensas nada!
Soledad, Soledad
Que a vida é toda secreta

Como estrela,
Como estrela nestas cinzas
Antes que o sol se vá
Nem depois não virá Deus
Soledad, Soledad
Nem depois não virá Deus

Pois só ele explicaria
A quem teu destino serve
Sem mágoa, nem alegria
Um coração tão breve

Também te direi Adeus!
Soledad!



Este fado nunca chegou a ser gravado. Vi pela primeira vez este documento num precioso filme que Nicholas Oulman  realizou sobre a personalidade multifacetada que foi a de seu pai Alain Oulman. No filme chamado "Com que Voz" é abordado o processo criativo dos dois grandes do fado que foram Amália e Alain Oulman. Nicholas disse-me que por dificuldade relacionada com os direitos autorais nunca foi possível gravar o fado que assim ficou em esboço até hoje. É uma pena! Gosto de pensar que Cecília Meireles se comoveria como eu a ouvir cantado o seu poema.

O meu agradecimento a Ricardo Costa que publicou o vídeo, a José Fonseca e Costa que fez o filme original, a Hugo Ribeiro que fez a gravação sonora e à Valentim de Carvalho onde tudo se passou.

sábado, 3 de agosto de 2013

Elixir

Elixir - Bebida alcoólica açucarada onde são adicionados e conservados princípios activos medicamentosos. Os licores são uma forma de elixir.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Já o tempo se habitua

Já o tempo Se habitua
A estar alerta
Não há luz Que não resista
À noite cega
Já a rosa Perde o cheiro
E a cor vermelha
Cai a flor Da laranjeira
À cova incerta 



Água mole Água bendita
Fresca serra
Lava a língua Lava a lama
Lava a guerra
Já o tempo Se acostuma
À cova funda
Já tem cama E sepultura
Toda a terra 



Nem o voo Do milhano
Ao vento leste
Nem a rota Da gaivota
Ao vento norte
Nem toda A força do pano
Todo o ano
Quebra a proa Do mais forte
Nem a morte



Já o mundo Se não lembra
De cantigas
Tanta areia Suja tanta
Erva daninha
A nenhuma Porta aberta
Chega a lua
Cai a flor Da laranjeira
À cova incerta



Nem o voo Do milhano
Ao vento leste
Nem a rota Da gaivota
Ao vento norte
Nem toda A força do pano
Todo o ano
Quebra a proa Do mais forte
Nem a morte


Entre as vilas E as muralhas
Da moirama
Sobre a espiga E sobre a palha
Que derrama
Sobre as ondas Sobre a praia
Já o tempo
Perde a fala E perde o riso
Perde o amor


 Nem o voo Do milhano
Ao vento leste
Nem a rota Da gaivota
Ao vento norte
Nem toda A força do pano
Todo o ano
Quebra a proa Do mais forte
Nem a morte