domingo, 4 de agosto de 2013

O FADO DOS FADOS. O mais belo Fado que conheço "Soledad" - Um poema extraordinário de Cecília Meireles com uma maravilhosa melodia de Alain Oulman.

Este é o mais belo fado que conheço! 
Tem a dimensão dramática da obra abruptamente interrompida. 
Nele está a mágoa do sonho por realizar. 
Com ele experimento a angústia e o desespero daquilo que não chegou a ser. 
A comoção profunda que me provoca é com certeza aquilo que se descreve como sendo a Saudade.
Aqui o sofrimento provocado pelo destino trágico é em antecipação um Requiem , um Fado.

O espírito dos pungentes versos do poema, que narra o destino fatídico da pequena Soledad, talvez tenha sido um prenúncio. O prenúncio que este fado teria a sua vida interrompida.



Soledad, antes que o sol se vá
Como um pássaro perdido
Também te direi Adeus
Soledad, Soledad
Também te direi Adeus

Terra, terra morrendo de fome

Pedras secas, folhas bravas
Ai quem te pôs esse nome?
Soledad, Soledad
Sabia o que sei, palavras...

Antes que o sol se vá
Como um gesto de agonia
Cairás nos olhos negros
Soledad

Indiazinha, Indiazinha tão sentada
Na cinza do chão deserta
Que pensas, não pensas nada!
Soledad, Soledad
Que a vida é toda secreta

Como estrela,
Como estrela nestas cinzas
Antes que o sol se vá
Nem depois não virá Deus
Soledad, Soledad
Nem depois não virá Deus

Pois só ele explicaria
A quem teu destino serve
Sem mágoa, nem alegria
Um coração tão breve

Também te direi Adeus!
Soledad!



Este fado nunca chegou a ser gravado. Vi pela primeira vez este documento num precioso filme que Nicholas Oulman  realizou sobre a personalidade multifacetada que foi a de seu pai Alain Oulman. No filme chamado "Com que Voz" é abordado o processo criativo dos dois grandes do fado que foram Amália e Alain Oulman. Nicholas disse-me que por dificuldade relacionada com os direitos autorais nunca foi possível gravar o fado que assim ficou em esboço até hoje. É uma pena! Gosto de pensar que Cecília Meireles se comoveria como eu a ouvir cantado o seu poema.

O meu agradecimento a Ricardo Costa que publicou o vídeo, a José Fonseca e Costa que fez o filme original, a Hugo Ribeiro que fez a gravação sonora e à Valentim de Carvalho onde tudo se passou.

1 comentário:

Justine disse...

Obrigada pela história e pelo poema, que não conhecia.