terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Porque coleccionamos coisas?


 
Artesanato Russo; Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão; Fábulas; Madeira de bétula.
Porque coleccionamos coisas não sei. Já houve um tempo em que achei que devia coleccionar coisas, ser como outros que coleccionavam objectos. Vagamente recortei sêlos de envelopes; cheguei a guardar algumas moedas; juntei autocolantes da actividade política; acumulei as saquetas vazias de açúcar que acompanham os cafés... até que cheguei a uma fase da vida em que a logística me impediu de continuar a colecção da altura. Na altura coleccionava canecas.
Mas coleccionar é o quê afinal? É classificar objectos semelhantes? Talvez sim, por exemplo quanto à função: -Brinquedos.
Mas  se tiver mais do que uma? 
Com certeza: Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão.
 Mas porque não a origem? 
Origem? Muito bem: Artesanato Russo; Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão.
 Mas e a imagética da coisa, o significado associado, a semiótica?
Artesanato Russo; Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão; Fábulas.
E o material?
Artesanato Russo; Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão; Fábulas; Madeira de bétula.

Talvez seja isso! Talvez o coleccionismo sirva para satisfazer um desejo de conhecimento e fuga, uma vontade de viagem temporal e espacial, uma necessidade de identificação e rastreio do tempo. Mas e quem não colecciona? E os que desistem de coleccionar como eu?

Eu desisti do acto de coleccionar porque me apercebi que todas as colecções são supérfluas. Agora tento não acumular nada, mas cheguei a um ponto em que o que é difícil é não coleccionar. O recolher itens sem que haja percepção disso é algo que só se torna palpável quando falta espaço para outra qualquer coisa. Por exemplo quando quero guardar uns livros e assim os colecciono para depois ler, que fazer aos outros livros? Refiro-me aos que já li, mais os que desisti de ler, mais os que não consegui ler, mais os que já antes tinha para ler depois...
Coleccionar é como comer demais, procura-se preencher um vazio qualquer. Colmatar uma falta primordial de algo que se perdeu ou que se achou possuir. 
Eu que coleccionei, e que coleccionei canecas porque concerteza elas me faltavam, tinha com elas e para além delas uma sede de conhecimento, um desejo de fuga da realidade, e mais do que tudo uma vontade de dar de beber à dor...
Caneca; Artesanato do Alto Alentejo; Chifre de bovino

2 comentários:

Justine disse...

Tema muito interessante e que gostaria de discutir (no sentido de trocar impressões), tranquilamente e com todo o tempo do mundo, à volta de um chá! Mas cá para mim é muito diferente colecionar sapatos ou livros, caixinhas de música ou joias antigas, autocolantes dos anos 70 ou cds de jazz...
Penso que, lá bem no fundo, ainda não ultrapassámos a nossa condição de animais recolectores!

Luis Filipe Gomes disse...

Agradeço o comentário Justine.
Partilho a vontade de trocar impressões sobre o tema.
As pessoas são diferentes e mesmo as colecções de objectos idênticos são diversas no seu propósito.
Concordo que somos recolectores, acho que tudo começa por aí. Mesmo os nómadas cujo tipo de vida impede a acumulação já na pré-história coleccionavam. Nos colares havia contas de materiais diferentes e de proveniências distantes entre si.