quarta-feira, 19 de março de 2014

PORTUGAL NÃO SOFRE UM PROGRAMA DE "AJUSTE" ECONÓMICO; PORTUGAL SOFRE UM POGROM!

POGROM - É uma palavra que deriva do Iídiche pogromit.
Inicialmente de origem russa o prefixo po significa inteiramente e gromit  significa devastar.
Gromit vem da palavra grom que é utilizada para designar a tundra. Grom as terras altas geladas onde as árvores não crescem e nada se ergue acima do solo além de musgos e pequenos arbustos.
Em português temos uma palavra sinónima de Pogrom. Diz-se: Arrasar.

Em Portugal houve Pogroms ainda antes dessa palavra ter sido inventada para descrever os massacres de populações judaicas e do seu modo de vida que ocorreram na década de 1880 na Rússia e particularmente na Ucrânia.
Em Portugal os Pogrom chamaram-se Autos-de-Fé.
Ao contrário dos actos mais ou menos tresloucados como o massacre de judeus, cristãos-novos e outros ocorrido em 1506 frente à igreja de S. Domingos no Rossio que alastrou por toda a cidade de Lisboa, esfomeada e agonizante de peste, doente de ignorância e fanatismo; os Autos-de-Fé tinham uma rigorosa organização.
Uma organização institucional: Grandes desfiles e vasto público em admiração; dos mais ricos aos mais nobres, dos mais cultos aos mais religiosos, homens e mulheres,  idosos e crianças inocentes,  fidalgos e cabeças reais daqui e de toda a Europa.
Tal como agora.
Massacravam-se na fogueira de forma vil e atroz, seres humanos, no meio do maior sofrimento, queimando vivos ou moribundos, inocentes cujo crime era serem vítimas do preconceito e da intransigência moral e religiosa dos seus vizinhos.
A infame Samarra amarela que era imposta ao condenado "que não se arrependeu" mesmo após a tortura e o julgamento. Samarra de etimologia Basca Zamarra veste de pele de animal ou com pele de animal. Pano amarelo pintado com demónios e chamas infernais.


Há 3 dias fui a um edifício em Carnaxide. Um morador contou-me que uma sua vizinha tinha mergulhado no vão imenso daquela escada de mármore e tinha voado sem constrangimentos naquele olho elíptico entre o seu piso no 12º e o 7º andar. 
Só no sétimo é que tinha batido no corrimão e a partir daí no parapeito de outros andares. 
"Era professora, estava desempregada há bastante tempo, era nova mas já não era nenhuma menina."

Lembrei-me dos Pogrom, dos Autos-de-Fé e dessa capacidade de devastação comum à destruição que associamos à guerra. Lembrei-me que esse arrasar de vidas se pode viver hoje em silêncio, na surdina anónima do torpor de um subúrbio.

Sem comentários: