sábado, 11 de março de 2017

Almaraz é aqui ao lado e Castela de má memória fica ainda aqui tão perto. Faz hoje seis anos que aconteceu o acidente nuclear de Fukushima.

Quando o desastre de Fukushima aconteceu e preocupado segui o desenvolvimento da crise nuclear e a contaminação radioactiva, deparei-me com o labirinto complexo da equivalência entre unidades de medição da radiação.
A partir dessa altura não só os japoneses mas todos nós ficámos expostos a essa contaminação crescente.
Torna-se difícil saber do perigo e dos riscos a que estamos submetidos com tantas unidades de medida utilizadas, com múltiplos e submúltiplos. Com tantos critérios de avaliação diferentes não se sabe fácilmente, ou pelo menos eu não sei, o que é radiação considerada "normal", "aceitável" ou "danosa".

As principais unidades são o Sievert e o Gray mas há muitas outras como o Rad, o Röntgen, o Becquerel, etc. O Sievert é talvez a unidade de medida de radiação que parece mais explícita, mas é frequente ouvir ou ler que "uma dose de cerca de 500 R (Rad) em 5 horas é letal para os humanos" ou que "uma dose típica de radiação de fundo para um humano é de 200 mR por ano".
1 Rad = 0.01 Sievert 



O Sievert: (símbolo Sv)

O Sievert é uma unidade derivada do Sistema Internacional (SI) que mede a dose de radiação absorvida pela matéria viva, que é afectada pelos possíveis efeitos biológicos produzidos.

Esta unidade dá um valor numérico com o qual se podem quantificar os efeitos estocásticos ou seja os efeitos cumulativos aquilo que no organismo se acumulou.

São efeitos em que a probabilidade de ocorrência é proporcional à dose de radiação recebida, sem a existência de limiar. 

O que significa, que doses pequenas, abaixo dos limites estabelecidos por normas e recomendações de radio-protecção, podem induzir tais efeitos. 

Entre estes efeitos, destacam-se as doenças oncológicas. A probabilidade de ocorrência de cancro radio-induzido depende do número de clones de células modificadas e da consequente multiplicação no tecido ou órgão. A sobrevivência de pelo menos um destes clones é suficiente para garantir a progressão da anomalia, da doença cancerígena, isto dentro do processo normal de multiplicação e regeneração celular feita pelo nosso corpo. O período de aparecimento, detecção, do cancro após a exposição pode chegar até 40 anos. 

No caso de leucemia, a frequência do aparecimento da doença oscila entre 5 e 7 anos, com período de latência de 2 anos.



A diferença do Sievert (Sv) com o Gray (Gy)

O Gray mede a energia absorvida por um material (unidade de dose absorvida) é uma unidade de medida de protecção em radiologia e protecção radiológica para pessoas expostas a radiações ionizantes: Por exemplo em trabalhadores ligados à imagiologia médica que utilizem raio-X ou outras fontes de radiação, ou em pacientes submetidos a tratamentos de radiologia. Esta energia absorvida medida pelo Gray é diferente da dose efectiva que mede o Sievert que já é corrigido de forma a tomar em consideração o dano biológico.

Usa-se a equivalência 1 Sv = 1 Gy para as radiações electromagnéticas (Raios X e Gama) e para os electrões, mas para outras radiações deve utilizar-se um factor corrector que será de 20 para a radiação alfa, e de 1 a 20 para neutrões livres.
 

 Existem três modalidades de radiações denominadas alfa, beta e gama que podem ser separadas por um campo magnético ou por um campo eléctrico:

Radiação alfa (α):

Também chamada de partículas alfa ou raios alfa, são partículas carregadas por dois protões e dois neutrões, sendo, portanto, átomos de hélio. Apresentam carga positiva +2 e número de massa 4.

A radiação alfa é um tipo de radioactividade em que um núcleo de hélio é produzido. Por exemplo, o urânio 238 desintegra-se em tório 234 e em hélio 4. Este núcleo de hélio é assim chamado de partícula alfa. A partícula é positivamente carregada e maciça. Embora sejam partículas de movimento lento em termos de velocidade da luz, (atingem uma velocidade de 20.000 km/s) elas são extremamente perigosas dentro do corpo humano devido às queimaduras e outro tipo de lesões que podem provocar.

A radiação pode induzir a radioactividade artificial e em alguns elementos causar fluorescência. Apesar de serem bastante energéticas, as partículas alfa podem ser barradas por uma folha de papel, no entanto ocasionalmente a radiação alfa pode passar através de folhas metálicas finas sendo as partículas desviadas à medida que atingem os núcleos dos átomos na folha. Estas partículas alfa só podem alcançar uma pequena distância no ar antes de serem absorvidas.



Radiação beta (β):

Raios beta ou partículas beta, são electrões, partículas negativas com carga –1 e número de massa 0, assim também podem ser desviados por um campo magnético. Por exemplo quando um neutrão muda para um protão e os electrões de alta energia são ejectados do seu núcleo, isso é conhecido como radiação beta. Estas partículas carregadas negativamente movem-se entre 90 e 95 por cento a velocidade da luz e podem penetrar a pele humana. A radiação beta produz fluorescência e afectará materiais fotográficos, mas tem pouco poder ionizante.

As partículas beta são mais penetrantes e menos energéticas que as partículas alfa, conseguem atravessar lâminas de chumbo inferiores a 2 mm de espessura ou lâminas de alumínio até 5 mm no ar, mas são barradas por uma placa de madeira de 2,5 cm de espessura.



Radiação Gama (γ):

Raios gama ou radiações gama são ondas electromagnéticas. São semelhantes aos fotões não têm carga e a sua massa é quase nula. Emitem continuamente calor e têm a capacidade de ionizar o ar e torná-lo condutor de corrente eléctrica. A sua velocidade é a velocidade da luz (300.000 km/s). Qualquer núcleo radioactivo que emita radiação alfa ou beta tem a radiação gama sempre presente.

Julgo que foram elas as responsáveis pelas avarias causadas nos sistemas eléctricos e electrónicos dos robôs que operaram em Chernobyl e dos helicópteros que transportavam água para o arrefecimento dos reactores de Fukushima. Infelizmente num e noutro caso foi necessário que as pessoas se substituíssem às máquinas com o seu sacrifício próprio comprometendo a sua saúde a curto, médio e longo prazo.

As partículas gama percorrem milhares de metros no ar, são mais perigosas, quando emitidas por muito tempo e podem causar má formação nas células. Os raios gama conseguem atravessar chapas de aço de até 15 cm de espessura, mas são barradas por grossas placas de chumbo ou paredes de betão. A radiação gama tem poder de penetração considerável, embora também possa ser absorvida por alguns materiais, como o chumbo. 

Parece que na Ucrânia, pelo menos em Kiev, se podem comprar nas farmácias medidores de radiação com a mesma facilidade com que aqui em Portugal se compram medidores de pressão arterial.

 Os dados estatísticos em 2011 indicavam que a expectativa para os adultos nascidos até essa data relativamente ao ano 2050 no que diz respeito ao risco do padecimento de doença oncológica era de 33 por cento. Ou seja, uma em cada três pessoas sofreria de uma dessas doenças pelo menos uma vez durante a sua vida. Agora seis anos após o acidente de Fukushima a expectativa é de que 50 por cento, uma em cada duas pessoas, metade dos nascidos, venham a adoecer durante a sua vida. 

O futuro não é risonho com Almaraz aqui ao lado e com Castela imperialista e de má memória ainda tão perto. Lembro-me sempre que em 1975 morreu aqui ao lado um ditador fascista responsável por uma Guerra Civil sanguinária que defendeu uma tese na academia militar que frequentou cujo tema era a invasão de Portugal. 





quinta-feira, 2 de março de 2017

Catherine Ribeiro - Je t'écris de la main gauche



"Je t'écris de la main gauche
Celle qui n'a jamais parlé
Elle hésite, est si gauche
Que je l'ai toujours caché

Je la mettais dans ma poche
Et là, elle broyait du noir
Elle jouait avec les croches
Et s'inventait des histoires

Je t'écris de la main gauche
Celle qui n'a jamais compté
Celle qui faisait des fautes
Du moins on l'a raconté

Je m'efforçais de la perdre
Pour trouver le droit chemin
Une vie sans grand mystère
Où l'on se donnera la main

Des mots dans la marge étroite
Tout tremblant qui font de dessins
Je me sens si maladroite
Et pourtant je me sens bien

Tiens voilà, c'est ma détresse
Tiens voilà, c'est ma vérité
Je n'ai jamais eu d'adresse
Rien qu'une fausse identité

Je t'écris de la main bête
Qui n'a pas le poing serré
Pour la guerre elle n'est pas prête
Pour le pouvoir n'est pas douée

Voilà que je la découvre
Comme un trésor oublié
Une vie que je recouvre
Pour les sentiers égarés

On prend tous la ligne droite
C'est plus court, ho oui, c'est plus court
On ne voit pas qu'elle est étroite
Il n'y a plus de place pour l'amour

Je voulais dire que je t'aime
Sans espoir et sans regrets
Je voulais dire que je t'aime, t'aime
Parce que ça semble vrai"