domingo, 7 de maio de 2017

Azulejos - A surpresa da fornada. A noite

 Quando os azulejos entram na mufla para lá passarem doze horas, cozendo a pintura feita no seu vidrado, abre-se um período de expectativa semelhante ao que nos acontece quando a noite cai. 
Quem já passou a noite longe dos meios de iluminação disponíveis nas cidades contemporâneas, terá ideia da limitação que o breu nocturno impõe às tarefas que na luz do dia são simples de executar. 
Mesmo psicológicamente essa impossibilidade de ver a distância parece limitar a capacidade de planeamento, antevisão e boa esperança. Quem se sente doente piora sempre com a noite. 
Por alguma razão de protecção evolutiva o nosso sistema vital abranda e adormece. É essa necessidade de descanso que parece transmitir a sensação de infortúnio eminente que para uns se traduz em insónia, o medo de dormir e não acordar; enquanto para outros, os que não suportam a ansiedade da espera, o adormecimento é rápido e profundo.
Com a aurora tudo volta a ser.




Algumas coisas porém deixam de ser o que aparentavam, pois tal como alguns azulejos que saem da mufla, verificamos que perderam a sua integridade.









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