quinta-feira, 30 de novembro de 2017

O menino de sua mãe

100 anos de guerra

Todos os dias morre o menino de sua mãe.


D. T. é um poema de Fernando Pessoa escrito em inglês, talvez no ano de 1935 o ano do seu falecimento.


D. T.

The other day indeed,
With my shoe, on the wall,
I killed a centipede
Which was not there at all.
How can that be?
It's very simple, you see -
Just the beginning of D. T.

When the pink alligator
And the tiger without a head
Begin to take stature
And demanded to be fed,
As I have no shoes
Fit to kill those,
I think I'll start thinking:
Should I stop drinking?

But it really doesn't matter...
Am I thinner or fatter
Because this is this?
Would I be wiser or better
If life were other than this is?

No, nothing is right.
Your love might
Make me better than I
Can be or can try.
But we never know
Darling, I don't know
If the sugar of your heart
Would not turn out candy...
So I let my heart smart
And I drink brandy.

Then the centipede come
Without trouble.
I can see them well.
Or even double.
I'll see them home
With my shoe,
And, when they all go to hell,
I'll go too.

Then, on a whole,
I shall be happy indeed,
Because, with a shoe
Real and true,
I shall kill the true centipede ­-
My lost soul!...


quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Para Herberto Helder o gás dos últimos dias.



por causa do seu poema:
a última bilha de gás (que) durou dois meses e três dias.


a última bilha de gás durou dois meses e três dias,
com o gás dos últimos dias podia ter-me suicidado,
mas eis que se foram os três dias e estou aqui
e só tenho a dizer que não sei como arranjar dinheiro para outra bilha,
se vendessem o gás a retalho comprava apenas o gás da morte,
e mesmo assim tinha de comprá-lo fiado,
não sei o que vai ser da minha vida,
tão cara, Deus meu, que está a morte,
porque já me não fiam nada onde comprava tudo,
mesmo coisas rápidas,
se eu fosse judeu e se com um pouco de jeito isto por aqui acabasse nazi, já seria mais fácil,
como diria o outro: a minha vida longa por muito pouco,
uma bilha de gás,
a minha vida quotidiana e a eternidade que já ouvi dizer que a habita e move, não me queixo de nada no mundo senão do preço das bilhas de gás,
ou então de já mas não venderem fiado
e a pagar um dia a conta toda por junto:
corpo e alma e bilhas de gás na eternidade
- e dizem-me que há tanto gás por esse mundo fora,
países inteiros cheios de gás por baixo!

( A Morte sem Mestre;. Porto Editora, 2014)




o gás dos últimos dias


Saberá Herberto Helder das palavras. 
Do peso que têm as palavras
na boca como pedras,
as pedras que Demóstenes colocava
para não gaguejar. 
Mas de gás? sabe  Herberto Helder
tanto como eu sei de Demóstenes.

Há gases que matam
e outros que permitem a Vida
e os que permitem um tipo de vida em vez de outra.
De gases é composto o Ar que respiramos
uma mistura rigorosa numa proporção exacta,
estequiométrica:
Com um pouco menos de oxigénio 
sucumbiríamos exaustos;
com um pouco mais de oxigénio 
arderia tudo à nossa volta.

O gás dos últimos dias 
podia ser suficiente para morrer? Sim! 
Se fôssem últimos, os dias:
Uma absurda escorregadela no último banho,
uma queda com pancada fatal na nuca ou na têmpora,
sem anúncio ou aviso que seria último o banho;  
Ou o esquentador sem chaminé nem janela para a rua
na casa de banho...
Mas já não os instalam assim.

É verdade que a vida está cara
e a morte tão cara quanto ela.
É essa a natureza do preço,
do mausoléu, do cenotáfio e da vala comum.
Já vivi em tempo de dinheiro escasso,
tomei banho de água fria sem gaz, nem bilha,
e carreguei lenha a poceiro nos dias de caramelo
para aquecer a água no pote de ferro de três pernas,
água carregada a cântaro entre as mulheres
- as mulheres não se queixam de nada no mundo,
nem do preço das bilhas de gás,
mesmo quando parece que só estão
se queixando -
aprendi com elas.
Não me queixo do custo do gás,
nem da desgraça dos países,
cheios da abundância
do gás por baixo
nem de toda a sua miséria,
presente e futura,
nem da miséria de isto por aqui acabar nazi
para mim que sou qualquer coisa semita, 
Judeu e Mouro entre tantas outras características
que herdei aqui nesta orla do mediterrâneo atlântico.

No entanto não me conformo de isto por aqui
acabar
com um qualquer Zyklon B mortalmente eficaz
na destruição massiva de vidas humanas como pragas,
zoológicamente classificadas imprestáveis 
pela organização normativa e industrial,
de ladrões genocidas,
que cria valor acrescentando os desertos 
a que chama espaço vital.
O kaos e a eternidade são uma probabilidade
na fronteira do nosso entendimento
e são a mesma coisa num fugaz ponto do espaço
onde tudo existe ao mesmo tempo.


Saberá Herberto Helder das palavras,
do peso que têm as palavras
na boca como pedras,
as pedras que Demóstenes colocava contra o Caos, 
mas de gás?

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

desenhos inquietos

Não consigo desenhar a violência! 
...mas não sabia ele toda a agressão daquele artesanato de coisas belas e inconsequentes que se contentava fazer e repetir com satisfação.




segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Os incapazes

Os Incas descendentes dos grandes construtores de Machu Picchu, e das grandes estruturas anti-sísmicas, em que o encaixe de blocos de pedra de muitas toneladas é feito com rigor milimétrico; distinguem as muralhas antigas que permanecem de pé, das que mais tarde foram erguidas pelos "conquistadores" e que os terramotos arruínam. E dizem: "aquelas paredes foram feitas pelos Incas estas foram feitas pelos incapazes".


domingo, 5 de novembro de 2017

Tavares é um topónimo de um território situado em Portugal na antiga Beira Alta.

Onomásticamente, Tavares é um antropónimo, derivado do topónimo da região portuguesa pertencente a Mangualde, Viseu.
O Concelho de Chãs de Tavares extinto recentemente (1853), era um território que integrava várias povoações com o nome de Tavares como: Travanca de Tavares, Várzea de Tavares, Vila Cova de Tavares, Vila Mendo de Tavares etc. A Dona Teresa mãe de Afonso Henriques andou por aqui e terá dado terras a um Pedro Viegas concedendo-lhes foral em 1114. Há quem defenda que Gil Vicente aqui terá nascido em Guimarancios (Guimarães de Tavares). Certeza porém é que João Ferreira de Almeida o primeiro tradutor do Novo Testamento para a Língua Portuguesa a partir de línguas originais, nasceu por aqui em Torre de Tavares no ano de 1628.

Eu também sou Tavares como muitos mais por esse mundo fora. Fica aqui a alegria de um famoso quinteto homónimo, os "Tavares", cujos antepassados terão saído deste pequeno território beirão de que falei, terão passado por Cabo Verde, e por fim chegado a terras do Novo Mundo.


Vir à tona.