quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Desenho breve.

Todos os desenhos são breves. 

Desenhadores mais demorados como o escultor Alberto Giacometti, ou o pintor Antonio López que deixaram registo fotográfico e fílmico do seu labor mostram a tentativa efémera dessa captura do tempo. Aparentemente esses registos documentais mostram a sua insatisfação, a sua persistência perante  a hipotética fragilidade da materialização do seu olhar face ao modelo que pretendem revelar. A frustração que exibem pela sua incapacidade de representação daquilo que também nos é mostrado é de facto uma luta contra o tempo. Tempo que se evidencia através dos sinais mais ou menos subtis que tornam perceptíveis a sua passagem tais como a mudança da luz, a indisponibilidade do modelo ou a sua própria desagregação.

O desenho não é só uma maneira de ver; nem uma forma de o desenhador afirmar o que foi visto, ou o que ele viu. O desenho sendo linguagem é por vezes incompreensível e passará ou não a sua mensagem conforme a lucidez de quem o olha independentemente do trabalho despendido por quem o fez. Por vezes o desenho é a revelação do que não se pode ver nem apreender. 

O desenho é uma medida do tempo. 



2 comentários:

Maria Eu disse...

E que bons são, os teus desenhos!

Beijinhos, Luís :)

Justine disse...

Lembro-me de ver (há tantos anos) "El sol del membrillo" sobre o trabalho de Antonio Lopez, e como essa tentativa de reter o tempo me impressionou.
Hoje o tempo filosófico continua a apoquentar-me e só a arte lhe vai dando umas ténues respostas...