segunda-feira, 23 de abril de 2018

Viva Prokofiev! -Sergei Prokofiev - Sinfonia No.1 em Ré maior, Finale: Molto vivace



A estreia desta sinfonia faz hoje anos.
Este quarto andamento não sei se é um ciclone que rodopia e levanta no ar aves, aromas de flores e odores de terra húmida; ou se é um galope por prados verdes a perder de vista. Não sei se é um rio primaveril que nasce em remoínhos do degêlo das neves e que canta montanha abaixo entre fragas e lameiros; ou se é um torvelinho de crianças correndo numa praia. Mas sei que é um hino de alegria cheio de vitalidade com uma energia criadora ilimitável. 
Esta é uma das boas interpretações que me foi dado escutar. Igualmente gosto da interpretação de Gennady Rozhdestvensky conduzindo a Orquestra da Rádio e TV da URSS. 
A velocidade deste Molto Vivace é tão delicada que fácilmente é destruída por modas de valeris gergieves sempre a chicotearem o tempo e a impedir as notas de se ouvir.
Já agora uma lição do grande Celibidace mesmo para quem não fala alemão.



E o deleite de conduzir a perfeição:





Não havia livros na casa.


Pedia livros e traziam-me guloseimas: rebuçados com feitios de peixes... amêndoas de licor enfeitadas para parecerem um porquinho ou uma galinha. Amêndoas de açúcar mole a imitar ovos de Páscoa... Bombons... 

Pedia livros que era o que eu mais desejava e traziam-me guloseimas doces. E diziam-me "Olha que tu não peças nada à Dona Gigi!" 


"Que queres tu?" perguntava-me a Dona Bibi.

- "Quero histórias!".
"A  Bibi agora não tem tempo para contar histórias!"
- "Quero livros!"
- "Livres?" perguntava a Dona Gigi.


Pedia livros e traziam-me as futuras dores para os meus dentes.

Não havia livros na casa nem havia escova de dentes. E eu pedia livros. Não sabia que devia pedir também uma escova de dentes. Mas se a pedisse não adiantaria nada é certo.

Quando vinham de visita, a Gigi e a Bibi, traziam bolos para o chá. Costumavam também trazer as tais guloseimas, por vezes até caramelos ou chocolates. Poderiam perfeitamente entrar na livraria em vez de se ficarem pela pastelaria que ficava na mesma rua. Nem precisavam de muito andar ou carregar porque o "chófér" com boné de pala deixava sempre o espada preto estacionado à porta das lojas e encarregava-se de carregar os embrulhos.


- "Livros Gigi! Ele disse livros.

- "Livros? Mas ele ainda não sabe ler!


quinta-feira, 19 de abril de 2018

As compressas e os parafusos.



...Outra coisa ainda; nas oficinas metalúrgicas por onde passei, em que se praticava mecânica fina também se dispunha os utensílios e as ferramentas sobre um paninho verde (às vezes preto ou branco) à semelhança dos instrumentos cirúrgicos. Havia a chamada "boa-prática" que pomposamente agora chamam protocolo, de contar as ferramentas, as peças, e os componentes substituídos. Incluindo "porcas" que não deviam sobrar; desperdícios de trapo, vedantes de cobre, cartão ou neoprene, etc.
Para terminar...


quinta-feira, 12 de abril de 2018

O CEO e Yuri Gagarin.Vista do espaço a terra é azul.


Dizem que o Cosmonauta Yuri Gagarin, o primeiro ser humano no Espaço, em 1961, ao olhar para a Terra exclamou comovido:
 "A Terra é azul!"


Visto de perto o CEO não é azul.


domingo, 8 de abril de 2018

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Beatriz Cunha - Polígonos


Quando me questionaste sobre as tuas novas esculturas com aquela necessidade que só artistas criadores de coisa nova têm em se pôr em dúvida, disse-te:
"-Não sei! É muito novo para mim." Tinhas acabado um ciclo de peças figurativas, antropomórficas: corações, mãos, cabeças, rostos...
Nessa altura o meu enquadramento referencial não funcionou. Senti-me em queda livre sem  rede salvadora ou linha de vida. 
Depois dei por mim pairando, flutuando no espaço, sem Gravidade que me arrastasse numa colisão contra um alvo determinado. Imponderável como um cosmonauta.
"-São poliedros? São sólidos platónicos em desconstrução?" 


Ao ver as tuas novas peças, o meu olhar caminhava de um interior escuro para a luz do ar livre. Sofri essa momentânea falta de visão do ajustar da percepção que impede compreender o que se vê. 

Sem que tivesse dado conta, os teus “sólidos” continuavam as interrogações e a pesquisa que sempre conheci no teu processo criador e existencial. 
A  linguagem; aquilo que percebemos na obra de um artista como fazendo parte intrínseca do que está no seu âmago de maneira a que não o possamos confundir com um outro, era a tua linguagem.  Sim, era bem a tua linguagem que se afirmava naquelas peças aparentemente tão diferentes das anteriores.

O rio e a margem. O côncavo e o convexo. O que está fora e o que está dentro. As interrogações à própria percepção concretizavam-se naquelas arestas perante o meu olhar. O miolo e a concha. O que é o Ser e o que é parecer.  
Os vértices, as esquadrias, os diferentes planos determinavam continuidades, oposições e contradições. Contidas naquelas facetas deparei-me com o que entendemos ser a natureza humana, o que aceitamos em nós, o que toleramos, o que só vemos nos outros.

Como numa heteronímia urdias a trama complexa das maneiras diferentes de sentir. As charneiras que articulamos e nos articulam, as que deixamos paralisadas até se cristalizarem.
Naquelas superfícies tridimensionais são incorporadas muitas outras dimensões. O tempo afirma-se num roteiro de vestígios de construção e desmoronamento. Há faces que resistem e exibem a sua resiliência sem que a sua estrutura tivesse sofrido com o choque; outras, não conseguem esconder o impacto que as deformou até à rotura.
Naquelas peças vi então a procura do ser e do não ser, a abstracção máxima, a procura da forma da própria Alma.