quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

LAPIS - Será esse o nome de uma exposição da qual farei parte lá para meio de Março com dois arquitectos que como todos os arquitectos têm uma visão global da construção do mundo. A exposição exibirá fotografia, escultura e os meus desenhos.

Ando a olhar para as pedras e as pedreiras, para as mãos que as partem e para as costas que as carregam. Ando a olhar para o chão que é uma forma de olhar para traz para o presente que se perde a cada passo. Deixo aqui um desses desenhos, das pedras da calçada, o calcário designado por vidraço. 























As exposições não costumam ter bibliografia. De facto as minhas têm sempre bibliografia. Ficam por isso aqui dois livros que trouxe da Poesia Incompleta a Livraria de Poesia do Mário Guerra ali na Rua de São Ciro, 26 em Lisboa.



Mar Largo é o nome daquele pavimento que ainda subsiste no Rossio. Terá sido executado por trabalho forçado de prisioneiros detidos no Castelo de São Jorge pelos anos da década de 1840. O pavimento de Lisboa a que chamamos Calçada Portuguesa e que já se espalhou pelo mundo deve-se à imaginação de um engenheiro militar e ao trabalho escravo dos detidos na prisão que então existia no Castelo de São Jorge. 
Claro que me lembrei de Mauthausen. 
Mas também me lembrei do meu avô paterno Luiz Gomes que era Pedreiro de ir à serra cortar o granito para a casa que construiu, e era Carpinteiro de construir soalhos e forros de tecto e era Marceneiro de fazer as rodas das noras e escadas em caracol, e Ebanista de construir cadeiras e móveis de sala. Lembrei-me dele porque tendo falhado por pouco os campos de matança da Grande Guerra o obrigaram a fazer guarda e a transportar prisioneiros para trabalhos de restauro do Forte de São Lourenço do Bugio no meio do Tejo e até lhe ofereceram um futuro na GNR, e ele não aceitou. Não aceitou ser carcereiro. Não aceitou reprimir os pobres. Preferiu voltar para a sua vida dura na Beira Alta onde ganhava o seu pão cultivando a terra.






Das Pedras

Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.

Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.

Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
E plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam 
Levantei a pedra rude
dos meus versos.







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