sexta-feira, 22 de março de 2019

A Dor - Quando se dá a somatização da dor alheia.


























Onde estão as casas que havia
Nestas ruas onde agora passo?
Pergunto, o que aqui faço...
Que é dos nomes que então ouvia?

…Dos aromas e sabores que provei?
Não são casas, são dentes arrancados!
Doidas dores, doídas, …pecados…
Sofridas nozes de partir, que sei?

Barrentas águas a vencer, suóres
Fomes e sedes a acontecer, mínguas…
Crianças gritam em tantas línguas
Dilaceradas, perdidas, deuses menores

Dentes arrancados da boca são
E eram firmes Pedras de Guilhim,
Oh restinga de barro! Oh Gente assim!
Precárias ínsuas sem firme chão

Só vós vos podereis reconstruir 
Erguer da ruína vossa vontade
Por ser nessa terra verdade
A bondade de saber sorrir.

4 comentários:

Justine disse...

Sofrimento muito bem retratado. Auto-retrato? espero que não...

Luis Filipe Gomes disse...

É um possível auto-retrato de memória sim!
Havia uma enxaqueca forte das que escapam às causas conhecidas.
Simultâneamente andava à volta com uns versos que ganhavam motivo numa Lisboa que conheci e que foi desaparecendo, para dar lugar a uma Lisboa que me é estranha. Mas só conseguia pensar em Moçambique onde nunca estive. E na Cidade da Beira que só conheço por relatos alheios de alguns seus naturais. Não era para colocar aqui esses versos aqui mas agora acho que faz sentido. Ou fará depois desta explicação. Uma dor de cabeça que espelhava uma dor longínqua.

Beatriz Cunha disse...

Ó Poeta!
palavras de cores intensas. Muito bom!

Luis Filipe Gomes disse...

Juntar rimas e chamar-lhes versos não é ser poeta.Talvez seja mostrar apreço pela língua portuguesa as suas palavras os seus ritmos a sua semântica e sintaxe.