sexta-feira, 15 de março de 2019

LAPIS - O Texto do catálogo da exposição.


LAPIS em latim significa pedra.

LAPIS são pedras.
A designação pedra vem do grego e está mais ligada ao conceito de rochedo, rocha de maior dimensão.
Para o bem e para o mal as pedras acompanham-nos desde que nos identificamos enquanto humanidade. De pedra são os abrigos mais antigos e os bens mais duráveis com os quais podemos classificar as nossas origens e a nossa identidade cultural mais remota: raspadores, facas, machados, pontas de seta. Muitas destas pedras foram talhadas em pederneira, o sílex; outras em obsidiana, um vidro vulcânico que pode ser tão cortante como o melhor aço. Não pensando só em pedras duras o ocre que é uma argila vermelha ou amarela foi usado nas culturas de todo mundo na África do Sul há 160 mil anos, aqui no território de Portugal há 24500 anos, na mortalha do Menino do Lapedo, uma criança resultante do acasalamento entre um homo sapiens e um homo neanderthalensis
 Os italianos ainda hoje chamam ao lápis matita seja qual for a sua cor: lapis haematites é uma pedra conhecida em português por sanguínea, hematite é o nome que os gregos davam à pedra cor de sangue e era uma pedra de desenho avermelhada muito usada nos desenhos da renascença. O lápis-lazúli é uma pedra azul semipreciosa e era triturada até ser feito um pó fino de cor azul denso e profundo, cor também conhecida por azul ultramarino.
Há menos de um século as crianças quase não tinham cadernos, o papel para escrever era ainda caro. Nesse tempo aprendiam a escrever em pequenas pedras emolduradas em madeira de pinho. Nessas pedras de ardósia, um xisto negro e de grão fino, escreviam com lápis, também de pedra feita de um xisto cinzento mais brando.
Até há bem pouco tempo as equações matemáticas mais complexas e os cálculos mais demorados eram escritos sobre grandes quados de fina lousa com umas pedras cilíndricas naturais chamadas cré, greda ou giz que por conveniência passaram a ser feitas industrialmente a partir de gêsso e calcário.
Desta origem latina, LAPIS derivou uma família inteira de palavras. Encontram-se no nosso vocabulário termos como lápide: uma pedra funerária inscrita que assinalava ou cobria um túmulo. Ou lapidar com vários significados: no melhor deles significa uma locução digna de ser registada em pedra, no pior dos casos como sinónimo do acto de ferir ou causar a morte a alguém a quem se atira pedras.
Rodeados por LAPIS estamos ainda hoje: Uns literalmente digitais como a ponta dos nossos dedos nos visores tácteis dos computadores de bolso, outros virtuais como o nosso olhar a distância apontando o infinitamente pequeno ou o infinitamente grande.
Esta exposição pretende fazer a ponte entre a idealização e a possibilidade de concretização. Nela existe a solidão da antevisão, a responsabilidade do projecto, e o risco do erro.
Do melhor e do pior do que a humanidade é capaz fazemos a nossa reflexão. Nestes tempos paradoxais através desta exposição LAPIS tentamos separar o que é esforço do que é trabalho forçado. A perplexidade perante a natureza agreste e a construção do que é paisagem e beleza. Modestamente aventurámos fazer caminho de encontrar motivo para a Arte enquanto justificação do gesto e da razão da própria existência Humana.


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