domingo, 26 de janeiro de 2020

Beatriz Cunha 3 peças em exposição no Convento do Espírito Santo em Loulé, para serem vistas até 28 de Março.



A Terra é plana.


Vivemos o tempo em que nos voltam a dizer que a “Terra é plana”.
Pitágoras já sabia que a terra era um globo e Aristóteles sem se referir a Pitágoras também. Eratóstenes, 250 anos antes da nossa era, mediu mesmo a circunferência da Terra.
Dizem agora uns que a Terra é plana, enquanto outros dizem querer salvar o planeta. Planetas para os gregos antigos eram corpos “errantes” no céu. Aqueles que atravessavam o espaço, o Cosmos de Pitágoras.
Pitágoras era também, de certa forma, um errante que buscou conhecimento e harmonia. Andou pela Índia, pelo Egipto; bebeu conhecimento dos Fenícios, dos Sírios, dos Persas, dos Babilónios. Dizem também que dos Celtas e dos que habitavam a Ibéria, ainda que eu não esteja seguro se se referem à nossa Ibéria se à outra que fica dentro do actual território da Geórgia.
Hoje dificilmente Pitágoras poderia ser mais do que um errante cibernético, um errante virtual, digital, quântico, sei lá... Porque há demasiadas fronteiras. Muros com paredes mais altas que fortalezas e arame farpado inoxidável mais dilacerante que a mais horrível coroa de espinhos.
Pouco se sabe de Pitágoras, em primeiro relato, mesmo o teorema que registou o seu nome já seria conhecido na Babilónia. Mas assim é o registo dos vencedores, e o confuso relato da memória a que chamamos História. Dizem que Pitágoras não gostava de favas, mas como é possível não gostar de favas? Pitágoras era parcimonioso com a carne, terá sido mesmo vegetariano, antigamente não se dizia “eu faço uma alimentação vegetariana” dizia-se “eu faço uma alimentação pitagórica”.
Esta conversa toda para dizer que Terra, este termo que na nossa língua surge por oposição a mar e em outras línguas significa chão, é o pó da matéria mais primordial. Pó das estrelas, assim dizem astrofísicos como Carl Sagan. Com este pó se edificam abrigos, se constroem casas, se fazem algibes, cisternas, olas e vasos. Com pó se faz arte que é uma forma de reflectir sobre a condição humana, tão frágil nesta biosfera em permanente mudança.
Pitágoras acabou por partir para outra encarnação, ele assim acreditava, faleceu numa terra do sul da actual Itália. Hoje uma terra famosa pela produção de tabaco e morangos, produtos inexistentes no tempo de Pitágoras. Faltava ainda cruzar o grande mar além Mediterrâneo, para os trazer de outro continente. 


Desenho a partir da escultura de Beatriz Cunha

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